O que seria destino? Um fato que não pode mudar/ Algo
imutável? Antes de tudo, o destino de quê? Vamos dizer que uma pessoa nasceu
numa família de carecas, inevitavelmente o destino dessa pessoa é se tornar um
careca também. Já não acontece se uma pessoa for escritora, seu filho terá
outro destino, pode até também se tornar um escritor, mas esse pode não ser o
seu destino.
Para começar, podemos falar que o corpo denso pode ter
um destino e o homem dentro desse corpo ter um outro destino completamente
diferente daquele que seu corpo vai ter. Sabemos que crescemos desde criança,
nos tornamos adultos e com o tempo a decreptada velhice e por final o fim do
corpo denso. Pergunto: o que restou daquela pessoa? Se durante a sua vida só
ficou com sua cabeça cheia de fantasias e suas emoções sempre foram frágeis e
negativas? Se existiam centenas de Eus fracos e fantasiosos, tudo isso não é
nada duradouro, o tempo que fica ativo uma parte da pessoa, este é o seu tempo
de vida, nada dentro de uma pessoa pode se falar que tenha um destino. Mas este
que até agora falamos é o mais superficial. Tudo que fazemos dormindo ou não é
algo que fica em nossa vida. Se uma pessoa corta um dedo, pode ter certeza que
a cicatriz ficara no corpo. As nossas ações deixam cicatrizes no destino
daquilo que temos dentro de nós e que pode estar dormindo.
Tudo o que acontece é fruto de algo que fizemos antes,
bem antes até de nascer neste corpo. Algo pode nos acontecer e ser um
merecimento ou fatalidade. Se a pessoa pratica um esforço consciente, ele se
tornará um merecimento, se a pessoa fizer algo que prejudique outras
pessoas, esta atitude se tornará uma
fatalidade na sua vida vindoura. Então, as pessoas que sofrem, por mais cruel
que possa parecer pode ser algo que não sabemos o motivo, mas nada é injusto. A
atitude que temos perante a fatalidade de outras pessoas é devido a nossa total
ignorância a respeito daquilo que conhecemos como destino.
Um homem que trabalha sobre si, que passa anos
procurando uma consciência de si ou outra superior, está fazendo o destino que
qualquer homem tem direito, mas não quer. Segue pela vida sem se importar com
seu verdadeiro destino. Ele tem direitos que não sabe que existe. Tem
possibilidades que não sabe que pode usar e usufruir na vida. Passa a vida toda
armazenando coisas que na hora da sua morte não adiantará de nada, gastou tudo que podia em fantasias e nada
ficou para si mesmo. O acúmulo de sua riqueza é fora de seu corpo, então na
hora de sua morte ele verá o que possui e o que acumulou no decorrer de seu
esforço diário (8 horas ou mais por dia). O seu carro, apartamento, dinheiro,
nada é seu, é do mundo e para onde ele poderia ir, o seu “veículo” não foi
formado. A sua existência foi para gastar o que podia acumular como energia
para este momento. O estranho é que a pessoa pode ter o que quer do mundo
externo e ao mesmo tempo acumular no decorrer de sua vida algo para si mesmo
que persista a pós a morte de seu corpo denso.
Os exercícios que praticamos é para serem usados na
vida, não temos necessidade de nos isolarmos de nada. Ao contrário, temos é que
participar da vida, sem estar identificados com o que fazemos e sentimos. Cada
esforço do Trabalho de Gurdjieff é um acúmulo de energia que se tornará
consciência. Nós não lutamos contra nada, o combate é para separarmos
interiormente as nossas vozes de decisão, de ação, daquele que observa o fato.
É um trabalho dentro de si que se exterioriza em nosso atos de exercícios, movimentos,
domingueira, etc. Que é a prática sem fantasia que fazemos para nos conhecer, e
que após isto tentamos ser o que antes julgávamos ser ou que julgávamos ter em
nosso interior.
O homem fica satisfeito com o mínimo que a vida lhe dá
e o Trabalho de Gurdjieff exige da pessoa algo que a pessoa não sabe que
possui. Em outras palavras, a pessoa se esforça primeiro para depois saber o
que vai querer da vida. Nós não falamos o que é melhor para uma pessoa, nós
damos indicações para se ter uma mudança de compreensão e esco9lher por si
mesmo o que é melhor para a sua vida. Quanto mais consciência, mais diferentes
são os gostos das pessoas e sua maneira de viver e encarar aquilo que lhe é de
valor. O homem no Trabalho muda tudo dentro de si, até o seu destino comum, que
passa a ser dirigido pela sua vontade.