Ao exercitarmos a lembrança do que se passou no dia,
trazemos à cabeça fatos que durante o dia desenvolvemos nossa atenção e
observação de si. Estes momentos de recordação unem o passado ao presente e
passamos a ver e até sentir fatos decorrentes da nossa atenção e também
momentos de distrações que atingiram nossas emoções.
Paralelamente a esses exercícios, fazemos a
programação do que faremos no dia seguinte. Se possível até a roupa que vamos
vestir, e as pessoas que falaremos e os lugares que teremos que passar, as
coisas que vamos ver nas paisagens. Se notarmos, estaremos entre dois fatores;
um que se passou e um que vai se dar. Quando o fato programado acontece, há uma
união e um fortalecimento de alguma coisa dentro de nós e passamos a ter uma
lembrança do que foi programado como também do que estamos fazendo. Neste
momento, cria-se um elo interior entre os fatos externos e os internos e
algumas dessas coisas acontecem com possibilidades de compreensão e de
existência dentro de um outro tempo. Lembramos o que programamos então nos
vemos fazendo o assunto programado. Há nisto uma dupla lembrança e uma ligação
entre o passado e o momento, assim como os fatos do futuro. O EU observador
passa a existir fora desses fatores, como mero espectador e os fatos passam a
ser e ter uma vida própria, independente de todos estes fatores.
Até o dia em que todos os fatores executados forem
vistos antes de serem e acontecerem e os fatos independentes do controle
interior como as pessoas que não falamos, pessoas que aparecerão fora do
previsto da programação, passam a ser um fator de recordação após o fato
ocorrido, então a observação dessas pessoas pode, de uma maneira totalmente
alheia aos fatos programados, participar como simples acontecimento novo. Com
outras possibilidades de observação de uma nova linha de conduta e até de
divisões, sem identificação e com dados ligados aos já programados e até os que
serão programados, ligados, sem contudo ter nada de aparente que dentro de uma
razão haja que ter ou de existir. Isto é, os fatos novos que aparecem tem uma
ligação com a nossa vida, não superficialmente mas profundamente, nos mostrando
algo que está para acontecer ou ligado a
algo que já se passou.
Percebi isto em pessoas, animais, fatos materiais que
ocorrem, como algo que cai, ou um assunto que vem de fatos que ocorreram com
outras pessoas e que estão ligados aos assuntos que estamos estudando ou
praticando e que aparentemente não há nenhuma ligação. Se for pessoa, pode nem
saber da existência da outra e nem ter fatos ligados. Tudo isto só pode ser
percebido através de uma atenção sem intenção de nada, apenas uma atenção a
todos os fatos que decorrem no dia a dia. Não pára aí, as ligações de destino
estão ligadas até em posições corporais e hábitos, que aparentemente nada tem em comum. Por isso o
estudante que quer se desenvolver neste sentido tem que por a atenção em tudo o
que existe nele e fora dele, simultaneamente e começar a observar todos os
hábitos tanto dele como do outros, sem querer mudá-los inicialmente e quando
começar a perceber o que resultam certos hábitos, conserva-los se não forem
prejudiciais a saúde ou a sua própria mecanicidade, ou conserva-los se forem
úteis para a sua vida.
Na Bíblia diz : "Não julgues para não ser
julgado" . É uma lei, pois para continuar a observar todos estes fatos,
não devemos mostrar aos outros nada do que se estuda, somente se a pessoa for
companheira de estudo e quer realmente fazer uma auto- observação. As pessoas
que não querem se observar e estão satisfeitas com o que são, mesmo que falem
que querem mudar, não é verdade. Somente quer mudar quem pratica a observação
de si e comenta e fala em reuniões os exercícios observados. Ao se fazer um
exercício sem comentá-lo em grupo de estudo, é uma desobrigação interior de
prosseguir. Quer dizer que a pessoa de certa forma quer ficar oculta com sua
mecanicidade em seu sono. A prática da obediência não é subserviência, é
humildade e respeito e este fato deve ser ligado ao interesse mútuo de se
desenvolver na observação. A pessoa que obedece exige e tem direito de querer a
atitude de quem ela obedece. E esta obediência também em certos momentos
inverte e aquele que obedece deve ser respeitado e também obedecido quando
falar e agir dentro do esforço do trabalho como companheiros na jornada da
evolução em união.
Obedecer é fazer os exercícios que se propõe.
Os exercícios inicialmente são uma sugestão e a medida
que o interesse aumenta passam a ser uma ordem, de acordo com a valorização
daquele que os recebe. Qualquer pessoa recebe os exercícios como algo de bom,
mas aqueles Eus que estão presentes neste momento podem não ser os Eus do
Trabalho ( a pessoa pode nem ter Eus do trabalho ) então, o exercício passado é
somente útil para que possa observar os acontecimentos e o valor de sua própria
intenção em passá-los, pois quem passa um exercício mesmo que o tenha feito no
passado, deve fazê-lo no presente, para poder acompanhar o momento dos
companheiros que se esforçam para se conhecer. Todos os conhecimentos são lineares
no caminho da evolução, significando que vai a frente, quanto mais sabemos
através de livros, histórias, contos etc. Sempre a personalidade vai a frente.
Para a essência, o seu subir tem que ser através da prática e antes de praticar
temos que saber como funciona a nossa máquina. Cada exercício é uma prática, a
cada momento que o fazemos, algo está sendo armazenado, como um fato real, não
fantasioso e nem teórico. E mesmo que erremos os exercícios, não podemos
considerá-los como um erro e sim como uma tentativa para o auto-conhecimento e
com o tempo ser usado na vida. Além da energia acumulada durante os esforços
sobre si mesmo.
A mudança só se concretiza com o esforço nesta direção
e acima de tudo a sinceridade consigo mesmo em não querer se enganar, achando
que já possui algo confiável dentro de si. Tudo deve ser ponto de observação,
tanto o que gostamos em nós como o que não gostamos.
(2000)
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