Além dos graus de consciência já conhecidos, falaremos sobre os graus de atenção no estado de vigília e consciência de si. Consideramos que o estado de vigília também é o estado de sono e nesta
situação, tudo acontece com a pessoa. A pessoa não é ela mesma e sim a vontade de
vários eus acidentais do momento. No caso de um praticante do Trabalho de Gurdjieff, este fica
por alguns momentos a mais numa situação de lembrança de si. Vamos classificar
esses momentos pelos graus de atenção:
- Primeiro Grau: A pessoa lembra de si própria, mas ainda não está se observando plenamente. Ao começar a relaxar o rosto e soltar os ombros, passa a sentir seu próprio corpo gradativamente. Este é o primeiro passo para poder acordar, então poderemos chamar de primeiro grau.
- Segundo grau: Se o seu esforço continuar, o praticante passará a também perceber os acontecimentos exteriores e com isto verá muitos detalhes que uma pessoa distraída não percebe como: movimentos, sons e situações diversas.
- Terceiro grau: A partir daí, já com as bases do primeiro e segundo graus, seus próprios movimentos são controlados assim como sua voz e internamente, as vozes interiores não interferem em sua atitude. Após um tempo nesta situação, que varia de pessoa para pessoa, o som interior aparecerá e tudo o que estiver fazendo não fará o som interior desaparecer. (Tenho uma observação a ser feita até esse ponto: a pessoa pode, ao lembrar de si, passar a ouvir o som interior primeiro, antes de relaxar o corpo, pois sabemos que sentimos mais o corpo ou contraindo ou relaxando os músculos propositalmente. Numa situação dessa, qualquer acontecimento externo não modificará o seu interior emocionalmente.)
- Quarto grau: É o completo abandono de toda a personalidade existente, como se a pessoa não existisse e fosse apenas uma vaga lembrança de todos os seus gostos e desejos, nada tem a defender ou afirmar, apenas a sua determinação em não perder esse tênue momento de consciência.
No processo para o equilíbrio do o homem, um prato da balança
são os acontecimentos internos, o outro prato da balança são os acontecimentos
externos e o equilíbrio, o Fiel da balança, é a sua consciência. Todo esse
contexto de equilíbrio pode desabar se a pessoa não ficar em estado de alerta
constante por esse motivo, devemos tomar muito cuidado com os pequenos detalhes
que nos tiram o equilíbrio tanto internamente como externamente. Como a
identificação é algo que está dentro de nós mas não se manifesta sempre, ela
apenas se apresenta quando o botão da provocação é apertado. Por esse motivo
devemos saber quais são os pontos de fraqueza que temos no nosso interior que
são conhecidos como: distração e esquecimento, que nada mais são do que SONO.
Quando falamos da consideração externa, nada mais
estamos querendo dizer do que uma atenção dirigida às pessoas que tem contato
conosco em várias situações de Trabalho ou não e pode passar despercebido,
por exemplo: uma pessoa nos entrega algo para guardarmos e distraidamente
passamos essa responsabilidade à outra pessoa. Isso é falta de consideração.
Pois quanto maior é a distância daquilo que queremos, mais pessoas se antepõem ao
nosso objetivo.
É fácil pedir a alguém algo que devemos fazer, mas nem sempre
há a necessidade de passarmos nossas responsabilidades para outras pessoas. A
divisão de tarefas num trabalho é algo que requer uma união de atenções com
apenas um objetivo: acordar. E isso pode ser feito desde a arrumação de
uma casa até a construção da mesma. O desconhecimento de suas próprias
responsabilidades também é sono. A pessoa pode estar fantasiando a si própria
que está atenta e no entanto não está nem vendo um pó em cima de uma mesa ou um
papel no chão pois a responsabilidade é de quem vê. Se estivermos perto de
alguém que não consegue enxergar suas próprias fraquezas, isto é, seu sono, ela
deve aceitar com humildade que o grupo existe exatamente para mostrar aquilo
que nos faz dormir e ao ser chamado à atenção para algo e se manifestar algum
tipo de emoção negativa, isto comprova que a pessoa se abandonou e não está
fazendo esforço suficiente para acordar.
Quando acontece algo interior contrariando os fatos
exteriores, aquele que quer acordar deve no silêncio obedecer, seja lá quem
for, contanto que tenha o mesmo objetivo seu, de acordar. Pois muitos
acontecimentos do sono só percebemos depois que este passa, e chegam os
outros eus do Trabalho. Quando num grupo alguém começa a se justificar
defendendo suas próprias opiniões e fatos, ele não está vendo o que os outros
estão vendo. Numa situação dessa, devemos procurar entender sem nos defender e fazer o que é pedido
mesmo não querendo, nem entendendo aquilo que deve ser feito ou corrigindo o que
errou.
Num grupo de TG não se faz o que quer e sim o que deve
ser feito. A opinião não é bem vinda pois é uma parte que nem sempre pode ser a
correta, portanto deve haver uma diretriz onde todos possam, entendendo ou não,
seguir. A pessoa que se acha capaz de fazer somente o que entende, acha que está
acordada e que sua cabeça é capaz de saber tudo o que se passa, comete um dos
maiores erros daqueles que acham que por ver e ouvir têm o suficiente para
entender.
A compreensão não é na razão do momento, e sim nos fatos que acontecem
e aconteceram. Vamos dizer que uma pessoa peça algo para outra e essa outra
esqueça e comece a justificar o esquecimento ao mesmo tempo que a que pediu
começa a se queixar. As duas estão dormindo pois o acordar não é ter a razão e
sim a consciência do que está acontecendo. Nós devemos mostrar pra quem quer
ver o erro que a faz dormir sem se queixar do que está acontecendo ou do que
aconteceu.
Uma pessoa do Trabalho deve ter especial atenção em
seus sentimentos em relação aos companheiros. Quanto mais incomodada uma pessoa
fica perto da outra, mais dormindo está. Como todos tem o mesmo objetivo de
acordar, não há diferença entre A ou B e ao estarmos juntos, a tendência para
ficarmos perto de alguém ou longe é uma marca de que o sono é profundo e a
observação não está sendo feita. Toda preferência é identificação. Claro que
para executar algum tipo de trabalho, naturalmente queremos a melhor pessoa
para não errarmos ou para nos ajudar. Isto não é sono, é inteligência que se
manifesta nos resultados daquilo que está sendo feito. O mesmo acontece quando
queremos aprender algo: devemos procurar a pessoa que sabe, isto também não é
preferência.
Vamos dizer que temos que viajar com alguém por um longo período. A
escolha se for possível é para aquelas que estejam no Trabalho, mas não tendo
essa possibilidade, qualquer pessoa que estiver perto da gente é tema que
deve ser observado nas reações que possam nos causar. Sendo do Trabalho, são
momentos de observação mútua entre si. A
teimosia demonstra também um grau baixo de observação pois nada mais é do que
forçar uma pessoa a acatar a opinião de outra quando ela não tem a compreensão para
isto que está acontecendo. A repetição contínua sem intervalo é teimosia,
diferente da persistência pois esta é o esforço que fazemos para conseguir
algum objetivo.
Qualquer sentimento de insatisfação perto de alguém é
algo que devemos observar com muita atenção pois tem alguma relação com algo
que temos no nosso interior em relação à outra pessoa e que deve ser mudado,
pois a fantasia pode criar fatos que parecem muito reais em relação a aquilo
que imaginamos entender. Em tudo isso, vemos o grau que possuímos de acordo com
nossa própria atitude .Quando estivermos no quarto grau, podemos ter certeza
disso ao não sermos atingidos pelos acontecimentos externos que não conseguem
nos influenciar emocionalmente ao mesmo tempo em que percebemos os acontecimentos
em relação a nossa pessoa.
Em qualquer situação, de intensidade de Trabalho ou não,
devemos saber qual é o nosso grau naquele momento, sem dúvida, pois esta é a base
do aumento da consciência. Ao segurar uma espada com a mão ferrenha, devemos
estar prontos para o embate final tirando todas as nossas fraquezas que acumulamos durante anos e que agora temos que vencer. Para vencê-las é
preciso estar atento e uma forma de estar atento é tendo responsabilidade, não
esquecê-las e não ter sentimentos negativos com ninguém, principalmente do
grupo, pois se isto acontecer, a pessoa está dormindo.
Um guerreiro de verdade
não é atingido com facilidade e não esquece das suas responsabilidades, pois a
maior que tem é ser imortal.
(17
de Setembro de 2003)
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