Os amortecedores são aparelhos que não deixam os vagões do trem
baterem uns contra os outros de forma violenta,porque assim podem danificar
toda a estrutura do trem.
Nós também temos amortecedores em nossa vida. Todos nós fazemos
esforço, exercícios para nos conhecer e adquirir um nível de consciência
superior, mas entre os exercícios e esforços existem amortecedores que não
deixam aquilo que vemos de forma suportável se transformar em choque pois
poderíamos não resistir.
Digamos que num determinado momento uma pessoa acorde mais e fique
nessa situação por uns instantes e passe a perceber o que ela é e o que se
passa a seu redor, em seguida gradativamente começa a voltar ao seu normal:
gesticular, a sua voz se tornar mecânica, etc... Isto não acontece de imediato
pois os amortecedores não deixam. A pessoa não suportaria se fosse dormir
imediatamente como antes pois se lembraria perfeitamente de sua condição de
acordada. O mesmo acontece com os eus, uns vem, outros vão e entre um e outro existe
os amortecedores que não deixam a pessoa perceber as mudanças. Num determinado
momento está um eu que é querido da outra pesoa e em seguida vem o eu
briguento, já não é mais a mesma pessoa, o corpo continua o mesmo, algumas
lembranças também, mas não é a mesma pessoa. Na espera do outro eu querido,
acontece que os amortecedores funcionam e nem uma pessoa nem outra percebem que
um deles já se foi e a pessoa volta a ser como antes, tudo em poucos
momentos.Os eus vem e vão, percebemos a mudança mas não o momento da troca
entre eles.
A pessoa que está no Trabalho de Gurdjieff deve sempre estar
preparado para aceitar essas mudanças e saber como manter uma observação
imparcial nesses eus e depois conhecê-los bem , saber como interferir, não
diretamente fingindo uma ação que não corresponda à realidade do momento.
Um determinado eu ou grupo de eus possui um comportamento e
tonalidade de voz facilmente reconhecida por alguém do grupo que no momento
utiliza dois: um que observa a si mesmo e o outro que espera essa mudança de eu
da outra pessoa até que o indesejado vá embora. Assim funciona o trabalho sobre
si em grupo. Ao
observarmos a mudança de eu de um amigo devemos esperar o outro chegar para
falarmos e voltar ao natural de equilíbrio. A pessoa que está com um eu
indesejado deve não agir, esperar, observar seus próprios movimentos, sua voz,
conversas interiores, posturas tipos de percepções limitadas, gostos,
sensações, pulsação, etc... e não agir nem decidir nada, apenas observar tudo o
que está acontecendo consigo e com o companheiro.
Nós sabemos que as opiniões e atitudes dentro de nosso ser vêm de
várias fontes (eus) e apenas devemos
aceitar aqueles eus que se relacionam com o trabalho sobre si. Se as
manifestações de um determinado grupo de eus, por exemplo: briguento, mister
bar, o bom profissional, o bom diretor, o bom ator, o bom pai, a boa mãe, o
amigão, etc... começam a se manifestar sem serem observados, eles se tornarão
fortes, muito mais fortes do que os eus do trabalho e um dia assumirão o controle
de tudo o que existe na vida da pessoa, mesmo que esta esteja no trabalho
fazendo tudo externamente certo com sua falsa personalidade . Mesmo quem estiver num grupo de Gurdjieff
agindo corretamente e até dizendo: “Nunca vou parar!”, “Sempre quis estar aqui
fazendo isso!”, “Sou do trabalho de Gurdjieff!”, etc...Tudo isso é uma falsa
personalidade que fantasia o Trabalho de Gurdjieff. Dentro de si a pessoa pode
ter como objetivo agradar a namorada ou mulher, família e etc ou se fortalecer
para que os amigos passem a respeitá-la
e admirá-la. Mas se estivermos com amigos do Trabalho e estes estiverem
atentos, perceberão quem é quem, isto é, quais são os eus que se manifestam
numa determinado companheiro e caso ele não faça os exercícios de
auto-observação, algo acontecerá: ou a pessoa passa a se observar ou se
afastará execrando e maldizendo todos, inclusive o trabalho que antes adorava e
era tudo em sua vida.
A parte externa de uma pessoa pode se manifestar com perfeição nos
movimentos, trabalhos, etc... mas somente ela saberá o que realmente quer e
valoriza. Um grupo de trabalho existe exatamente para diminuir os amortecedores
e causar choque naqueles que estão fazendo um esforço sério sobre si mesmo.
Aqueles que estão se enganando, conforme a intensidade do trabalho de grupo
aumenta eles não agüentam, sairão do grupo na primeira oportunidade que
tiverem, como: família, serviço, namorada, dinheiro ou até algumas novidades
profissionais físicas ou psicológicas diferentes do Trabalho.
Os amortecedores são o bálsamo que levam a pessoa a dormir e
pensar que está acordada ou pensar que está fazendo algo sobre si mesmo. Nesta
benevolência, descansará na cama da vida num sono maravilhosos de suas próprias
fantasias, achando-se o único certo podendo até encontrar alguém que concorde
com ele, mas não será uma pessoa do Trabalho de Gurdjieff. Uma pessoa do
Trabalho é acima de tudo, alguém que sabe o que quer, está pronta para
sacrificar suas próprias fraquezas, como: preguiça, desleixo com objetos do
grupo, pieguismos com amigos, desconfiança ou pior, esperar que as coisas
melhorem para começar com a falsa idéia que retornará com mais disposição. Uma
pessoa que retorna após um tempo de afastamento por um dos motivos citados
acima voltará mais fraca, desturmada, estranha e até com vergonha de si mesma
ou ficará com raiva e culpará o grupo pelas suas próprias fraquezas. Estes são
os amortecedores que impedem as pessoas de verem o que realmente querem ou são.
As pessoas são o que fazem e não o que falam e fazer não é uma vez ou duas, são
anos de Trabalho e abnegação na direção daquilo que querem. . Quanto mais
esforço para acordar, mais consciência e mais diferente se tornarão do que
antes eram, sempre para melhor, nunca para pior do que quando iniciou seus
esforços. Nada os abalará nesta meta. São os verdadeiros guerreiros do século
XX ! Seu escudo é sua atenção, sua lança é a sua verdade e seu corpo, a sua
imortalidade.
esse texto mexeu com o eu inseguro e inconstante em mim!
ResponderExcluirHomenagear kioshi, é lembrar de si a todo momento.
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