Todos começamos algo numa direção e com um objetivo.
Digamos que decidimos ir para um grupo
de estudos para adquirir mais conhecimentos sobre si mesmo e que temos que por
em prática a observação de si, os exercícios, reuniões, domingueiras,
movimentos, leituras, etc... Todos que
começam iniciam com um tipo de sinceridade aparente. Durante as reuniões os
assuntos são do trabalho, quando terminam as reuniões já se inicia o segundo
processo de influência: as pessoas começam a falar sobre outras pessoas, a
brincarem e logo em seguida já estão completamente esquecidos dos objetivos da observação de si
; começam a criticar quem está falando, a quem errou os movimentos etc; tudo começa
a ser mecânico, as brincadeiras entre amigos
se tornam importantes e as tarefas da vida passam a tomar conta como
sempre de nossos procedimentos. Às vezes nos lembramos dos exercícios uma ou
duas vezes durante uma semana e já achamos que isto é tudo; as reuniões do
grupo passam a ser algo social , encontros entre amigos que já faz uma semana
que não se vêem., entre abraços e beijinhos, todos alegres e felizes tomam seus
lugar es e se inicia uma reunião de “Gurdjieff”. Entre as pessoas que
participam de um grupo vão se formando 3 categorias de praticantes: Os
Papagaios que falam muito, perguntam tudo , querem saber além do que é dado em
reuniões, mas só decoram, não praticam efetivamente quase nada. Os Corujas
ficam calados como se soubessem tudo, não fazem pergunta e assim também ficam
fora do local de reunião. Olham, tudo e nada fazem. Os Corvos falam, dão
depoimentos e saem à procura de carniça que possuem em si e na vida. São os que
estão realmente no trabalho, praticam no dia a dia e nas reuniões. São os que
chegam mais alimentados com as influências do Trabalho. Claro que todos recebem
influências dos 3 tipos.
- A - da vida comum, como um chamamento para o sono e a morte da consciência.
- B - com leituras de livros esotéricos, bíblias, etc.
- C - diretamente de uma fonte onde se tem a possibilidade de acordar que são as influências do trabalho, no nosso caso Gurdjieff.
Não há outra maneira de se perceber qual é a nossa
situação interior, se no exato momento de qualquer manifestação de mecanicidade
não sacrificarmos nosso orgulho, ciúme, vaidade, raiva e imediatamente
obedecermos o que nos propusemos a fazer no trabalho de conhecimento de si
mesmo. Digamos que ao sermos provocados por algum fato bom para se distrair ,
ou mal para os sentimentos ( raiva ); devemos nos lembrar de nossos objetivos maiores da vida e pegar aquele momento como
uma luta de Titãs entre Eus da vida e Eus do Trabalho. Num dos depoimentos que
achei perfeito uma pessoa me disse: Um Eu conversador inicia a conversa
interior contrária aos exercícios do
Trabalho, um outro Eu observador passa a observá-lo sem interferir . Este Eu
conversador observado cessa a conversa interior
e o Eu observador que observa fica satisfeito com o resultado. É aí que inicia uma verdadeira observação pois
até este Eu observador do trabalho também deve ser observado igual ao outro.
Todos os nossos pensamentos, imaginações, dados da vida não nos pertence. Tem
que ser observado. Tudo aquilo que defendemos ou não gostamos em nós não nos
pertence, é algo que pode ser mudado. O verdadeiro caminho que seguimos é o da
mudança, da troca de tudo o que somos ou que temos; nada em nós deve ser
guardado, devemos esperar sem parar e lutar para que cada movimento externo e
interno tenha uma direção em nossas observações do trabalho. O que achamos dos
outros é errado assim como o que achamos de nós mesmos.
A única maneira de chegar a ser alguém como um
Guerreiro, homem de conhecimento, buscador, etc...não reside em nós; é fruto de
um esforço contínuo. Já lemos em algum lugar que o homem para renascer deve
antes morrer. O que será que isto significa? O morrer é não deixar nada vivo
como base de algo a ser valorizado em nós. Tudo deve ser apenas observado e este que vê
dentro de nós é a semente do renascer. A mudança de uma simples pessoa que vive
dormindo não se baseia em leituras, nem em reuniões mas em um trabalho
solitário consigo mesmo. O ver não é apenas abrir os olhos e saber como
fazê-lo, é acima de tudo aceitar a ver o que não nos agrada. As influências
acham uma abertura para nos dominar e dirigir nossas vidas através de nossas
intenções que é fruto do nosso nível de ser. Então devemos também observar em
nós a nossa real intenção e não a
aparente. Vamos dizer que uma pessoa diz ser contra a violência e que a paz é
seu objetivo. Ela ao sair de casa pega a arma e coloca na cintura para ir falar
com alguém sobre uma situação a ser resolvida. A intenção podemos notar mesmo
que a pessoa afirme que quer somente falar. Uma outra pessoa diz que vai ao
Shopping somente ver as vitrines e leva dentro da bolsa o talão de cheque e
dinheiro. Nisso podemos ver que aquilo que a pessoa se propõe é apenas a
máscara de sua real intenção. Uma pessoa que está no trabalho de Gurdjieff deve
perceber as intenções externas das pessoas e as suas próprias para não se
enganar com o Trabalho. E nada é mais ofensivo para nós do que não podermos
esconder nossas reais intenções perante as pessoas se estas intenções não são dirigidas a acordar e sim a
fazer a pessoa a continuar a ser a mesma que sempre foi.
A intenção é o que nos dirige, mesmo que não façamos o
que queremos no momento, mas assim que surge a oportunidade a pessoa mostra o
que sempre foi: uma pessoa que não quer acordar. Em nosso caso devemos sempre e
em todas as situações ter a intenção de ver, acordar e se conhecer cada vez mais.
(27/09/2000)
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