De tudo aquilo que li, pratiquei, vi e senti até hoje,
fiquei sabendo de muitas das possibilidades que temos de subir, isto é, de sair
da situação em que estamos e prosseguir durante
a vida e ter um certo destino. Qual destino? Antes vou dizer o primeiro
destino, aquele normal a todos os que vem fazendo um esforço comum de trabalhar
para viver bem ou acumular dinheiro, poder político, esportivo, ou mesmo para
prolongar a vida no corpo físico.
Desde que nascemos somos educados para aprender a
viver no meio ambiente, crescer, casar, ter filhos e esperar a morte dentro ou
fora das religiões, e neste caso viver a esperança de uma vida após morte ou
mesmo indiferente a ela. É como se as pessoas vivessem enganando a si mesmas e
aos outros, dizendo possuir o que realmente não tem; a esperança ou a fé. Na
maior parte das religiões conhecidas, a morte é uma catástrofe e a tristeza
abate aquele que fica, e o que vai partir; o temor e o medo de ir embora para o
além. Enfim, ninguém quer morrer ou não quer que os amigos e parentes morram,
atrás há um consenso interior de que a morte é um fim, uma despedida
irreparável. Neste ponto todos são iguais, raríssimas pessoas estão fora deste
fator. Das pessoas que conheço e conheci a morte é uma tristeza seja qual for a
religião; católicos, judeus, protestantes, budistas, muçulmanos etc.. É como se
o destino do homem terminasse com seu corpo físico (ossos, carne, sangue, etc.
). "És pó e ao pó retornarás", enfim todos aceitam este fato, como sendo o destino comum da humanidade,
morrer com o corpo físico Ao mesmo tempo todos tem esperança da continuidade
após a morte, pelo menos a maioria não aceita a morte como o fim, acredita que
algo continua, então, vive nesta esperança, sem na realidade nada fazer para
descobrir ou mudar a situação deste destino. Fogem para as religiões para
manter a esperança viva de uma salvação espiritual da alma, etc. então, seguem
algumas regras alimentares, morais, ritualísticas e etc. até a morte chegar, e
enquanto isto, vai vivendo, trabalhando, se divertindo para se alegrar e
esquecer ou fugir de algo que existe na vida e aí, uma hora vai ter que
enfrentar este algo, mas enquanto isso,
vai se escondendo no sexo, na bebida alcoólica , divertimentos.
Fora isto, existem outras coisas que o homem queira
mudar acima de tudo, como seu destino e
tem esta possibilidade. A pessoa tem que primeiro, não estar satisfeito e
aceitar que existem outras possibilidades e então ir atrás, procurar e o pior,
aceitar que existem muitas coisas acima da sua compreensão. Aqui é um ponto
crucial : que é compreensão. Normalmente as pessoas confundem que a compreensão
é tomar conhecimento de alguma coisa, de qualquer maneira, lendo, vendo,
vivendo, etc.. Vamos dizer que sabemos que 1+1 é 2, mas não compreendemos
porque é dois e não três. A nossa cabeça, a parte intelectual dela tem um
limite de compreensão. Por exemplo: mesmo que alguém fale, escreva ou mostre,
continuamos a ter uma limitação de compreensão que nos limita dentro de tudo
aquilo que sabemos ou que imaginamos saber. Na maneira comum de viver as
pessoas vão destruindo todas as possibilidades que o ser humano tem no corpo
físico. Tanto destroem sua saúde comendo o seu
e deixando o corpo parado, como as possibilidades latentes de vida fora
da "matéria", conhecida como corpo físico. A compreensão está ligada
ao nível de consciência, somente através
de um aumento de nível de consciência temos a possibilidade de evoluir e
alcançar o verdadeiro destino humano que são os seguintes que conheço:
- Criar uma alma que viva fora do corpo físico com consciência de onde está e o que está fazendo, com a memória de quem é. Este corpo tem acesso aos mundos mais sutis fora desse físico, mas mesmo tendo este acesso o nível de consciência é o mesmo que de tem aqui no plano físico, portanto, o esforço aqui é essencial, não conheço outra maneira de aumentar de consciência fora do plano físico, por isso estamos presos aqui. Temos a possibilidade dessa vida fora do corpo físico e lá temos outras tarefas e necessidades, tanto de locomoção, que é limitada, como de sensação e emoção que é diferente mas que tem o mesmo nível daqui, isto é, aquele que a pessoa tem aqui. De acordo com certos ensinamentos pode-se:
- Criar mais dois corpos além desse
- Criar uma outra forma física consciente, isto é mais um corpo físico
- Permanecer com a energia que se acumula através do corpo físico parando seu envelhecimento e deterioração por algumas centenas de anos ou muito mais.
- Além dessas três formas de se aproveitar a energia da vida, li sobre muitas outras, mas hoje dentro das limitações da minha compreensão não tenho idéia como poderia ser possível, através de um esforço conseguir alem dessas.
O problema é: como conseguir energia suficiente para
se ter o poder de armazenar tal energia? Como conseguir criar algo de real
dentro de si mesmo? Não estou falando de um procedimento de atitudes externas,
nem de conduta externa, pois por mais que a conduta externa seja diferente,
estranha, a inferior pode continuar a mesma. Vou até exemplificar:
- não dançar, não fumar, não comer carne vermelha, não tomar bebida alcoólica. Tudo isto pode ser bom para a saúde do corpo físico.
- Não faltar aos encontros religiosos, vestir roupas sóbrias , não assistir TV, não ir a festas etc. Tudo é no relacionamento externo.
Para se conseguir fazer algo nesta direção que uns
chamam de luz outros de consciência, outros de salvação, tem que ser um
trabalho interior constante, ininterrupto e alguns exteriores se for o caso de
esforço coletivo, pois não conheço outra maneira de esforço, melhor dizendo: o
esforço individual é em nossa vida comum de estudo ( trabalho, vida em família
etc. ) e o esforço coletivo é quando estas pessoas que fazem um esforço
interior se reúnem, com esta finalidade. O que fazer? Primeiro há uma
necessidade de dúvidas que se conheça, e que se queira conhecer, para poder
saber como o nosso corpo funciona, e este esforço não é de alguns dias, dura
anos. Após este esforço inicia-se uma análise de todas as atitudes que se faça,
tanto o que gosta quanto o que não
gosta. Em síntese, conhecer a si próprio através de uma auto observação,
seguindo o Sistema que chamo "Gurdjieff" pois nunca li nem vi ninguém que o fizesse em
outro local, e para isto existe a necessidade de conhecer ou ter idéia de como
a máquina humana é dividida, através do Sistema de Gurdjieff. E numa observação
podemos perceber que nossa cabeça não é fixa naquilo que tem dentro dela, nem
as nossas emoções, então, temos que ter como base a sensação do nosso corpo,
pois ela não é volátil, depende unicamente de nós mantermos uma atenção
constante sobre ela e a partir daí tudo, tanto o que acontece fora como o que
acontece dentro de si mesmo. Este tipo de observação se dá simultaneamente, e
quatro partes ( no mínimo ) em nós são observadas : a instintiva, a emocional,
a intelectual e até a motora. Nesta observação estão incluídas nossas conversas
interiores e até o que sabemos; em suma, toda a Personalidade (tudo o que
aprendemos durante a vida) é observada. Este esforço costumo dividir em três
partes com suas subdivisões:
- Um trabalho diário com exercícios objetivos de conhecimento de si, que tem que ser comentado com alguém que já o tenha feito e que tenha certa experiência. Pois existe a obrigação de fazer um depoimento do que foi feito, e isto cria um elo de grupo entre aqueles que querem acordar, muda a situação em que se encontra.
- Exercícios coletivos de auto-observação para observar a parte motora do corpo e colocá-la em situação de desenvolvimento e autocontrole desse centro.
- Periodicamente (mês) se isolar em grupo e intensificar ao máximo os exercícios para ter um aumento de energia em grupo. Nestes encontros se põe em prática aquilo que se diz querer. Podemos construir algo ( mutirão) e além disso trabalhos diversos manuais para se conhecer as limitações pessoais e desenvolvê-las com objetivo de se colocar interiormente. Aqui tem algo na Bíblia que é exato: "A fé sem fazer nada concreto, é morta, é um cadáver." E só sabemos aquilo que fazemos.
Há nisso uma lógica e uma razão inegável. Se o homem
quer mudar , é o mesmo que querer ser outro, claro que melhor. Não melhor que
outra pessoa, mas melhor do que ele é
até aquele momento. A perda de energia que o homem comum tem ( o que não se
esforça para mudar, pois está satisfeito com o que é ), a pessoa para mudar
ganha, contudo tem que estar insatisfeita com o que é. O que somos? Primeiro
fracos e imaginamos que somos fortes, da seguinte maneira:
Qualquer coisa que acontecer fora de nós muda nosso interior, significando
que não temos uma unidade interior, somos mutáveis e frágeis. Quando não
estamos imaginando coisas irreais da vida, estamos sentindo coisas que não tem
nenhum valor, como raiva, ódio, ciúme, incertezas ou até alegria fútil, que
tira toda a nossa força interior.
Além disso o nosso corpo fica ao abandono, com as
musculaturas contraídas inutilmente, jogando fora uma quantidade enorme de
energia que poderia ser transformada em consciência, em luz. Nas nossas atitudes
só pensamos em nós mesmos, esquecemos que vivemos junto com os outros e que até dependemos de outros para nossa
existência equilibrada, pelo menos socialmente, e não os consideramos, pois
perdidos em nossa distração achamos que só nós temos valor. Os pais por não
perceberem o que acontece, confundem identificação com amor aos filhos,
confundem egoísmo e idéia de posse com o
amor aos filhos e por aí vai jogando
toda a realidade da existência fora. Vai se matando durante a vida para quando
chegar a morte não querer morrer. Vai criando um apego egoísta para quando
chegar o momento da separação (casamento, perda do emprego, viagem obrigatória,
etc.) sofrendo inutilmente se iludindo que gosta das outras pessoas, quando na
verdade só tem apego e mecanicidade em tudo. Pergunto:
Como alguém pode ajudar a outro se não sabe o que está fazendo? Como pode fazer
alguma coisa para si próprio se não se conhece? Como pode ver se não quer abrir
os olhos, ou ouvir tapando os ouvidos? A partir da aceitação de que tudo nos
limita, até nós mesmos temos que nos libertar disso, e esta luta é titânica.
Há dentro de nós um EU observador e com ele uma série
de fatos, entre estes fatos a Personalidade, que é mortal e sua função é apenas
nos ajudar como intermediária entre o interior e o exterior através das
sensações da parte instintiva. Se
pararmos para observar imparcialmente, começamos a separar o joio do
trigo. Aquilo que nos serve e aquilo que é inútil, mas para isso é necessário
um esforço , um trabalho sobre si. Com o passar do tempo este EU observador tem
energia suficiente para ter uma vida e até um corpo de observação e de
existência, um separado de todas as funções. Não para comandá-las inicialmente,
mas para ter uma existência separada dentro e fora do corpo físico e suas
funções ( intelectual, emocional, motora, sexual e instintiva ), quando isto
acontece se forma uma unidade de todas elas que chamo de Essência e que pode
existir independente dos fragmentos que há em nós. Na convivência, assim
que acordamos de manhã começamos a enfrentar o mundo como ele é e não como
queremos que ele seja. Dentro deste conceito fazemos parte destes
acontecimentos, a saída para fazermos algo de concreto para nós é isolar-nos
das forças que sugam nossa energia e nos tira a consciência de si, que nos
impossibilita de ficarmos acordados. Então iniciamos sentindo o corpo, pois é a
única maneira que conheço de ficarmos fixos em algum ponto. Para isto temos que
senti-lo e a partir dessa sensação relaxar os pontos possíveis: rosto, abdômen,
ombros, nádegas, braços , coxas e pernas (centro instintivo). Interiormente
observarmos as vozes interiores, intenções, conceitos pré-formados, imaginações
(centro intelectual). A partir daí as emoções que nos chegam, principalmente as
negativas como raiva, ciúme desconfiança, impulsos de vingança, brincadeiras
ofensivas a partir das emoções (centro emocional). Na simultaneidade da
observação desses centros é possível fazer
algo, até controlar e daí ver o que pode acontecer fora de nós, pois já
estaremos embasados em algo que não é falso. Ao olharmos para as pessoas e
recebermos o que querem nos transmitir, desde uma simples conversa, até uma
presença de alguém que nos satisfaz ou que é indiferente, ou que nos traga uma
outra ação não positiva, temos a chance de analisar e até ver o que está
acontecendo e escolher numa tênue linha onde nos situarmos, para continuarmos
isolados da mecanicidade da vida e percebermos que se em nós mesmos os Eus não
mudarem com as circunstâncias podemos ter a chance de ver outros Eus das
pessoas mudando e com ele suas atitudes e sentimentos, com isto não teremos
motivos de seguir o caminho do sono e do acidente. Pois será fácil de notar que
tudo o que está acontecendo em nossa vida vai passar e com isto mudar os fatos,
queiramos ou não, tudo vai passar, mas nós teremos a oportunidade de ficarmos
sem passar, serenos, calmos, um pouco mais conscientes de si. Sacrificando o
sofrimento que poderia existir dentro de nosso ser, trazidos pelos Eus que
dormem e nos levam a tal. Não nos deixa dúvidas que para isto é necessário uma
energia baseada inicialmente no pequeno desejo de querer algo. Então fazemos
este esforço às vezes quando tudo nos favorece. Depois este pequeno desejo com
a continuidade dos esforços diários pode se tornar uma vontade, e até podermos
ter forças para receber toda esta energia que está a nossa disposição, em tudo
o que fazemos, tanto sozinhos como com as pessoas que não se interessam muito,
como também com os companheiros que se esforçam junto conosco. Até um dia
sermos uma unidade com possibilidades de ir muito além e de ver e sentir coisas
que nunca sentimos ou vimos, de caminhar por lugares que nem a imaginação de
qualquer ser humano comum possa existir. E viver realidades estarrecedoras,
avassaladoras, imensas, maravilhosas, que o ser humano tem todo o direito de
viver, usar e estar juntos, unidos com a imensidão dessa criação divina ; ter a
chance de poder sentir pelo menos um pouquinho dessa grande emoção de gratidão
por temos essa oportunidade e até o privilégio de estarmos tendo a chance de
podermos prosseguir além dos limites de nossa diminuta consciência e
conhecimento que tanto usamos, sem sabermos que além disso há muito mais nos
esperando.
Talvez a partir daí aprendamos a respeitar aquilo que
recebemos e muitas vezes não temos a mínima idéia porque os acontecimentos se
desenrolam completamente fora do nosso alcance lógico, compreensível diante da
nossa vida. Dentro de todas estas limitações pessoais a existência do EU
observador só depende de nossos desejos e a sua existência é independente de
nossas funções, bem como a sua consciência de si. A energia que está ao nosso
alcance dentro de nossas limitações pode se ampliar muito além, podemos passar
a ter o direito de ver e sentir fatos muito além da nossa capacidade e nível de
ser.
(15/
05/ 99)
Muito bom! Esclarecedor!
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