Comumente as pessoas acham que tem atenção e que estão
conscientes, isto é, acordadas. Para se entender o Trabalho de Gurdjieff a
pessoa tem que ter praticado vários tipos de exercícios, em certos casos até
extenuantes senão não terá nem idéia do que é observação de si ou lembrança de
si. Todas as pessoas acham que a sua compreensão é igual a dos outros, mas se
esquecem que cada idéia contrária ou opinião própria significam que há níveis
diferenciados de consciência e com isso, compreensão.
Digamos que num sítio onde há várias árvores
frutíferas, piscina, etc, chegam 3 pessoas: um poeta, um arquiteto, uma
criança. Depois de irem embora se perguntarmos o que viram cada um falará de
acordo com a atenção que tem naquilo que lhes atraiu mais. Todos tem atenção
normal que o mundo exige para uma existência comum. Mesmo que alguém vá até um
local com a finalidade de por atenção em tudo que for possível, não terá
atenção do grupo de Gurdjieff que tem como objetivo um aumento de consciência.
O arquiteto colocará a sua atenção na construção; o poeta ouvirá o canto dos
pássaros e nas árvores e achará tudo lindo e sossegado; a criança se lembrará
das frutas e da piscina. Tudo se baseará fora da cabeça ou das emoções sem
linha de retorno para se próprio, aí estará a diferença de uma atenção dirigida
em duas setas: uma para fora e outra para dentro de si mesmo, com um observador
em terceiro plano. Um homem do Trabalho de Gurdjieff saberá que para se ter um
nível diferenciado superior a si mesmo terá que por para funcionar 3 centros
simultaneamente a sua atenção terá que estar dirigida para fora e para dentro
ao mesmo tempo.
Uma pessoa está
usando uma enxada, capinando e procurando sentir seu corpo e colocando sua
atenção nos pontos que estão dentro de seu campo visual e na sua cabeça vêm
opiniões sobre o acontecimento como forma de imaginações (vozes interiores):
“Como está calor!”, “Como estou sofrendo!”, “O meu companheiro está
enrolando!”, etc...Nessa situação esta pessoa apesar de estar sentindo calor e
achar que está fazendo algo para si é uma pessoa comum, nada está fazendo ou
quase nada para si mesmo.
Ele teria que além de estar fazendo o trabalho, estar
com atenção não somente em seus movimentos, mas também no de seu companheiro ao
seu lado, não para criticar com o centro
intelectual, mas para apenas olhar e saber o que está acontecendo com ele e com
os outros. A sua atenção está em si mesmo e simultaneamente ao seu redor. Verá
o que está acontecendo em seu interior, como fantasias em sua cabeça, vozes
interiores, opiniões, idéias pré-concebidas, enfim, tudo o que apareça em sua
cabeça e em seu sentimento formando sua falsa personalidade. No mesmo momento
estará observando externamente se o que está fazendo está certo, bem feito ou
errado, assim como sua atenção estará em todo o seu redor, se um companheiro ou
amigo tiver alguma dificuldade e precisar de ajuda, estará ali antes de ser
chamado ou solicitado, pois estará
presente tanto dentro de si como fora. Quando alguém for passar, não esperar
pedir licença e ao ouvir algo estará sabendo o que está acontecendo. A partir
desse fato, dentro de sua cabeça cessarão as vozes interiores e ele será apenas
observador, podemos chamar isso de ESPREITA . Seus movimentos e sua atitude por
fora serão normais de acordo com o que esteja fazendo e por dentro somente
sensação e presença real do trabalho sobre si sem nenhuma forma de julgamento,
pois não deixou lugar para isso.
Digamos que estamos conversando com alguém, ao
escutarmos estaremos deixando aquilo que nos chega como sons entrar em nossos
ouvidos, estaremos com atenção no assunto e na pessoa bem como circundantes. Ao
mesmo tempo que estaremos observando o que sentimos no centro emocional e no
centro instintivo como forma de sensação. Ao emitirmos nossas opiniões dentro
do assunto, não deixaremos as manifestações emotivas evoluírem e assumirem a
conversa, apenas o centro intelectual ( razão ), mesmo que ela seja contra
aquilo que temos como personalidade ou opiniões que tenham, nossos eus que não
são do Trabalho. Dessa forma veremos que a atenção normal está limitada
externamente ou internamente por aquilo que chamamos de falsa personalidade, se
esta pessoa não for do Trabalho de Gurdjieff.
Ao descer do ônibus, uma certa pessoa está fazendo
exercício sentindo os pés, mãos e observa ao longe que um amigo se aproxima e
vem um pensamento: “Ele vai falar sobre o jogo de ontem e eu não vou discordar
dele em nenhum momento”. Ao dar um aperto de mão, notou a sua alegria ao se
encontrarem e sentiu interiormente uma satisfação; quando o amigo começou a
falar passou a sentir o seu próprio rosto ao entrar no assunto de futebol, se
preparando para não ir contra a opinião dele. Durante o papo esquece do seu
próprio rosto e passa a não senti-lo, o assunto entrou em contradição sobre o
árbitro, um tenta provar para o outro que o árbitro é ladrão, trazendo vários
argumentos anteriores sem nada conseguir. Percebe que o rosto começou a
esquentar emotivamente mesmo relaxando o ombro e decidindo continuar se
observando, a pulsação aumenta e em seguida o assunto se torna natural sem
nenhum esforço de Trabalho. Imediatamente a pessoa volta a sentir o rosto e
observar todos esses fatos, isto é uma constatação, ele pode ver nesse momento
as pessoas que passam ao redor, crianças brincando, pássaros cantando e etc,
voltando a estar presente e assim fica na condição de ESPREITADOR, seu destino
volta, pelo seu próprio esforço, a ter uma direção dentro da imortalidade.
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