O querer requer um estado de Consciência de Si. Além
disso, a pessoa tem que ter uma persistência emocional, intelectual e motora,
até podemos falQar que é vontade e não desejo, pois este se se parece com o
querer.
O desejo vem do Centro Intelectual. Mas pode vir do
motor, que induz a satisfação do centro, por isto a pessoa que inicia algo pode
até conseguir, mas não fica mais acordada do que antes, ao contrário, quando
alcança o seu objetivo, fica mais mecanizada e identificada com o objeto que se
empenhou.
No caso do querer, devem participar no mínimo três
centros. A cabeça almeja algo que o sentimento procura conseguir. O corpo,
através da ação (prática), faz tudo para alcançar seus objetivos e para isto
tem a necessidade de sacrificar a identificação consigo mesmo, auto-comiseração
e outras manifestações que levam uma pessoa aos sonhos. Durante a trajetória de
um esforço consciente, criamos dentro de nós, a compreensão de nosso próprio
sacrifício, nos fortalecendo cada vez mais. Por isso ao alcançarmos o objetivo,
este já não é mais atraente e nem valoroso, pois conseguimos algo para nós
mesmo que é superior ao objetivo. Vamos dar exemplos: duas pessoas: A e B. A
primeira possui algo dentro de si e o Trabalho de Gurdjieff é uma realidade de
sua vida. Esta pessoa quer um carro,
mas começa a trabalhar para consegui-lo se esforçando cada vez mais até
comprá-lo. Quando consegue isto, o carro já não é tão atraente, possui menos
valor do que no pensamento inicial e até pode pensar que não vale a pena tanto
esforço por aquele objeto. Outra coisa, o que quer se torna mais fácil
conseguir , até é melhor, mas já não lhe interessa.
A segunda pessoa, apenas quer o carro e faz tudo para
consegui-lo. Durante este empenho se identifica com o objetivo a ser alcançado
e quando o consegue fica tão feliz que seu estado de sono aumenta mais do que
quando iniciou. Ao conseguir comprar o carro terá dificuldade de ter outro, mas
dentro de si estará radiante, aumentando com isto o orgulho, vaidade e
identificação. A cima de tudo acha que valeu à pena a perda de tempo para
consegui-lo e que foi algo de bom para sua vida, que foi trocada por algo
externo e não interno como o primeiro que ao ter este intento armazenou dentro
de si uma experiência de aumento de consciência
para a sua vida comum e interior.
Uma pessoa inicia o treinamento de karate para sua
auto-defesa e melhora sua condição de brigar. Após ter treinado alguns anos
alcançando este objetivo, percebeu que isto não tem importância em sua vida, o que mais lhe interessa é
aperfeiçoar sua técnica , não para
brigar ou se defender , mas para ter dentro de si aquilo que conhecemos como
confiança e auto-controle. Isto se torna mais o importante para seus
treinamentos.
Alguém que inicia o Trabalho de Gurdjieff com o objetivo
da imortalidade através de um esforço
pessoal, começa com o passar do tempo a ver defeitos em si mesmo, como
distrações, raiva, identificações, tristeza pelas identificações. Ao
distrair-se, não consegue impedir nada que a torne mecânica e com isto fica com
raiva por estar sendo contrariado, pois acha que sempre está certo em seu
raciocínio, tirando a possibilidade de Observação de Si e de ver o que está acontecendo consigo e ao
mesmo tempo com as outras pessoas. Mesmo que haja cinco ou mais discordando e
sendo todos do Trabalho de Gurdjieff. Nesta situação, se cria uma
impossibilidade de Observação de Si, pois é um engano achar que estar sentindo
o corpo seja o suficiente para se parar um processo de sono depois de iniciado.
Podemos até dizer que aquela pessoa não quer, não tem
querer e nem capacidade no momento para acordar e verificar que está errada por
estar dormindo. É um processo de fácil observação dentro de um grupo, tanto
pela tonalidade de voz, pelos movimentos e a atitude facial de que não pode
estar com fantasias, com isto se
defende, tentando explicar uma razão
para sua ação.
Dentro de um trabalho de grupo, quem não está
identificado vê a identificação do outro. Fica mais fácil se houver mais
pessoas no grupo com este objetivo. Mas, uma outra pessoa que antes estava
vendo, pode se identificar com o processo e se distrair, parando de ver a sua
própria identificação, caindo também no estado de sono. Isto não acontece se
estiver presente antes de ser questionado
por alguma atitude ou entrar no assunto.
Quando alguém
já está identificado e se inicia uma observação de outras pessoas, é difícil
ela conseguir impedir o seu desenvolvimento sem o querer , que chamo de
humildade de não saber o que está passando consigo mesmo , nem com os companheiros
que estão diante de si no momento da reunião .
Muitas vezes a pessoa pode não conseguir a compreensão
do que está se passando, mas consegue se conter e depois entenderá que não
estava presente. Naquele momento da identificação a pessoa é apenas alguém que
não lembra de si.
20/03/2008
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