sábado, 26 de março de 2016

O SABER E O SER

O conhecimento é algo que cai no Centro Intelectual e cria a ilusão que o homem tem o saber. De uma maneira comum uma pessoa adquire um conhecimento através de livros, cursos e observação exterior de acontecimentos. Tudo isso alimentará a Personalidade que necessitamos para ter uma vida normal com a sociedade. Vamos dizer que uma pessoa adquirir  um saber de marcenaria ou de pintura a óleo. Ele compra livros e começa a treinar, logo vai verificar que apesar de ter lido, visto e observado, não vai conseguir executar quase nada, vai serrar torto, pintar lambuzando toda a tela e pode até perceber que não consegue nem pregar um prego. Apesar de ter lido vários livros e perguntado para várias pessoas como fazer. Se ele insistir e continuar apesar de errar, com o tempo os erros vão diminuindo, significando que seu conhecimento que era teórico, está passando a ser prático, em outras palavras de simples conhecimento está passando a ser saber. O homem é o que sabe, não o que conhece. Uma outra forma é a seguinte: Apresento um amigo a várias pessoas numa festa  e depois de um tempo todos passam  a conhecer o Toninho. Mas eles não sabem quem é o Toninho, apenas o conhecem. Eu sei que ele é pintor, poeta, não é ladrão e gosta de doces e chá.
O saber é um nível acima do conhecimento e também o próprio saber tem níveis diferentes que podem mudar o ser das pessoas.
Uma pessoa pode ter um saber igual à outra e seu nível de ser pode ser muito acima. Dois carpinteiros podem ter o mesmo saber sobre a sua profissão. Um deles, o A possui um equilíbrio interior, não se exalta, é paciente e o dinheiro que ganha o gasta moderadamente para não lhe fazer falta. O outro, B, é um exaltado, impaciente, e sempre se mete em dificuldade financeira e etc. O A tem amizade com seus vizinhos  e o B, nenhum de seus vizinhos gostam dele, é um sujeito mal visto.
Aqui no trabalho de Gurdjieff o mesmo acontece. Duas pessoas recebem o mesmo exercício de psicologia para se fazer uma observação de si. Um deles quando está perto de outros amigos, por algum motivo se exalta e quer brigar, esquecendo os exercícios de auto-observação naquele momento e coloca seu conhecimento limitado, cheio de rancores, orgulho, vaidade, ciúme acima daquilo  que se propõe para elevar seu nível  de ser que é uma observação imparcial de si mesmo. Um outro, quando as coisas não acontecem como ele quer, se observa, fica calmo e colhe na prática uma observação de si que pelo menos naquele momento o coloca acima de seu próprio limite.
Em dado momento nos vem uma influência de alguém, imediatamente as vozes interiores baseadas em nossos conceitos mecânicos, nos domina passamos a responder ou não aquilo  que nos foi dito ou o que vemos. Neste momento podemos escolher ou sermos o que sempre fomos, desta maneira nada mudará, nem nossas idéias, sentimentos e acima de tudo nossa compreensão se estiver em zero, neste número continuará, mas caso contrário, se decidirmos não reagir mecanicamente, relaxamos nosso corpo, observamos nossos sentimentos e até nosso conceitos e pré-conceitos  e não reagimos, apenas observamos, nada mais ao dar respostas a uma conversa procuramos o Centro Intelectual e a razão baseada na observação do fato e não nos conceitos que sempre tivemos, como ponto de vista, penso assim, sou assim, gosto disso, não daquilo e etc.
Toda a pessoa que decide mudar, tem que sacrificar suas fraquezas, aquilo que o faz dormir, ser o mesmo que sempre foi. Agora se a pessoa entra nos Trabalhos de Gurdjieff e se considera perfeito, correto e satisfeito com o que é, deve parar de se enganar que quer mudar seu próprio nível. Aqui em nosso trabalho, queremos ser outra pessoa, não estamos satisfeitos com o que somos, nem com a vida que levamos. Queremos outra forma de encarar a vida, outra consciência, por isso tudo o que achamos correto ou errado devemos observar imparcialmente. Apenas observar, não julgar. Nem o que somos e nem o que nossos companheiros dessa jornada são.
Num grupo, uns gostam de cigarro, outros de bebidas alcoólicas e um terceiro de falar muito, um quarto de ficar calado, etc... Todos devem sempre lembrar  que aqui estamos para mudar nosso conceito de vida, e não como um clube social onde devemos seguir regras de comportamento, etiqueta e moralidade. Aqui no nosso grupo não nos importamos com o que as pessoas pensam ou agem em sua vida. Para nós o que importa é o objetivo de acordar, ver, sentir, perceber, estar presente nas atividades e exercícios nada mais. A meta a ser alcançada pode até estar longe, mas o caminho a seguir sabemos qual é.  E a nossa conduta externa pouco importa, pois o nosso interior deve sempre estar atento. A mudança do ser não se baseia no comportamento das outras pessoas, muito menos do que elas fazem ou pensam. O importante é estarmos sempre presente sacrificando nossas fraquezas que acumulamos durante nossas vidas. Todos aqueles que estiverem no grupo de Gurdjieff é um companheiro de Trabalho e deve ser respeitado em suas fraquezas pois se fossem fortes não precisaríamos de grupo nem de consciência. A luta é interior e ininterrupta, sem trégua, caso contrário nada alcançamos.

(11/09/2000) 

O QUE NOS TIRA ENERGIA - PARTE II

É fácil dizer que é espiritualista, que se tem livre arbítrio etc, mas quando chega a hora da prática pura, as coisas mudam e fala mais alto o egoísmo, a vaidade, a raiva, etc. É fácil também participar de reuniões sentadinhos, comportando-se como pessoa amiga e educada, seguindo os princípios de onde se freqüenta. Tudo isto é um grande fingimento e a pessoa imagina que está enganando as outras pessoas quando na realidade está se enganando e como os outros também estão, tudo se torna uma grande manifestação social que se diz espiritual e assim todos voltam para casa satisfeitos, como se já tivessem cumprido seu dever na escola, só que o dever de casa não fazem, e assim vão esperando algo que não chega até a hora derradeira de despedida do corpo físico, então se acordam, mas não há mais tempo para nada, somente ir, sem saber para onde, neste momento não há mentira, somente realidade do que se fez e do que se foi na vida.
Os que praticam vêem o que são, mas não o que serão, os outros vêem o que poderão ser, mas não o que são, e assim vão. Uns somente vêem dentro de seu nível de ser, isto é, de uma consciência nada mais do que isto, tornando-os até certo ponto cépticos, racionais e limitados na compreensão de leis e fenômenos espirituais e de leis da conseqüência.  Outros o inverso, quase não notam o presente dentro da consciência de si, são levados pela mecanicidade e possuem conhecimentos espirituais de alto nível, que uma pessoa jamais poderia possuir se  baseasse unicamente em seu nível de consciência do momento normal.




domingo, 13 de março de 2016

O QUE NOS TIRA ENERGIA - PARTE I

A soma de energia que adquirimos durante o dia vem através dos três alimentos comuns ao homem: a comida através da boca, o ar que respiramos e as impressões que recebemos. Toda a soma deles  é desperdiçada através de vários costumes que adquirimos desde a nossa infância até a idade adulta. Vamos verificar as três primeiras entre as outras de mais fácil verificação e como temos que fazer para economizar para que ela se transforme em consciência de si e que de certa forma nos traz compreensão e controle sobre certas manifestações mecânicas da vida.
A primeira fonte de desperdício são as contrações musculares que temos e que só notaremos se sentirmos o corpo, o lugar em que isto ocorre, como o rosto, ombros, abdômen, mãos, coxas e pernas. Para que isto não ocorra temos que colocar nossa atenção, através de um esforço para não esquecê-las. Com isto algo dentro de nós fica direcionado, estabilizado para partirmos para o degrau da atitude e notarmos as nossas posições corporais desconfortáveis (não significa desleixado) e contra producente para os objetivos do que estamos fazendo, como escrevendo, lendo, trabalhando, cuidando etc. Só neste tipo de observação temos um grande fato de economia de energia e atenção dirigida para o nosso próprio proveito (Centro Instintivo)
A segunda fonte de desperdício são as conversas interiores inúteis para a vida cotidiana, e que são fantasias e lucubrações da nossa cabeça. Se nos propusermos a notar isto, imediatamente ela cessa  e com isto há uma facilidade em ocupar esta energia em outra coisa. A manifestação da fantasia também está em pré conceituação do que estamos vendo, nos direcionando para fora e não observando o que vemos. Em outras palavras estamos perdidos no que assistimos, que pode ser um filme, televisão, ou até mesmo quando estamos caminhando na rua, olhando as coisas. Se fizermos tudo isto primeiro sentindo as partes contraídas para em seguida colocarmos a atenção nas fantasias da cabeça, passaremos a olhar as coisas de dentro para fora. Como um retorno, vamos para fora com a atenção, ao mesmo tempo dentro do nosso corpo. Isto causa um atrito interior de energia que fica acumulado como consciência. Aos poucos cada tentativa, alguns minutos por dia até conseguir uma grande parte do dia. Este tipo de trabalho sobre si não depende das manifestações externas. Esteja acontecendo o que for, nada pode impedir a pessoa de ter atenção dentro de si, simultaneamente. A percepção deve ser total, ao mesmo tempo em que vigiamos exteriormente, ficamos também nos policiando internamente dentro do nosso corpo.Olhamos as pessoas, movimentos, sons as intenções ao conversarmos, e interiormente a vigilância nas fantasias e frases estereotipadas, mecânicas, e verificamos o que acontece com tudo: com o corpo no relaxamento, com a cabeça e suas fantasias, isto é ficamos alertas.

A terceira coisa que é como uma explosão de energia, que vai para todos os lados, pondo a perder grande parte da nossa energia é a raiva, o ódio. Vamos dizer que a raiva é um sentimento negativo, que dá por algum motivo sempre externo e que entra no nosso corpo nos dominando, se não estivermos preparados para a luta. Na U.D.V. a raiva é uma força perambulante que entra na pessoa e assume o comando, e o ódio é o próprio mal. O ódio é um sentimento que persiste por um longo tempo dentro da pessoa e se manifesta quando encontra uma oportunidade, até de forma aparentemente calma, controlada e até inteligente para causar o mal para aquele que é odiado e para o que odeia. Este sentimento só pode existir em quem não se observa e não tem nenhum interesse em evoluir a consciência.Já a raiva é uma perda de controle que quando se vai deixa até arrependimento do ato praticado. Já o ódio deixa satisfação em quem pratica. Uma das manifestações do ódio é a vingança, outra é a satisfação que a pessoa tem em ver a outra prejudicada ou sofrendo. A raiva quando chega devemos pegar nossas armas e lutar para ela não se manifestar primeiro relaxando o corpo em seguida dirigir a atenção para a voz e nunca tomar uma decisão nesta hora. Só podemos esperar passar o momento e com ele os "Eus" que querem assumir . A luta não é para vencê-la e sim amenizá-la, estudá-la, observá-la. Este esforço nos trará a glória de uma compreensão diferente do que está acontecendo ou motivando aquele momento. Comumente se diz que a pessoa tem uma personalidade forte e fala e faz o que quer nestes momentos, mas é um erro enorme pensar assim. Pois ao se manifestar com raiva a pessoa é fraca, descontrolada e totalmente levada pelas circunstâncias que podem prejudicar tanto no momento fisicamente como psicologicamente, nada trará de útil além de se perder o momento para se armazenar uma força que é útil e prática. Podemos nos arrepender de perder o controle e extravasar a raiva mas nunca de ter controlado para que não se manifeste. 
(...continua)

segunda-feira, 7 de março de 2016

PONTO DE EQUILÍBRIO

Uma pessoa se esforça para se manter alerta, sentindo o corpo, etc...e começa o estado de consciência de si. Nesta situação todos que assim estiverem percebem as mesmas coisas e os acontecimentos ao seu redor são sentidos e vistos de forma equilibrada e dentro de uma mesma compreensão. Digamos que num grupo de 14 pessoas  uma delas esteja distraída e falando algo mecanicamente (fantasiando) e que seu estado interior esteja identificado com o assunto, em outras palavras, que esteja dormindo no estado de vigília ou sono desperto. Por mais que fale ou faça algo, todos notarão a sua intenção e identificação com o que fala ou faça. Se esta pessoa continuar assim o seu sono aumentará e cada vez mais se distanciará de um estado melhor de consciência, mas se o grupo continuar coeso no seu esforço de manter a atenção algo acontecerá com a pessoa que não está com a atenção. Ela acordará ligeiramente e terá alguma emoção de raiva ou tristeza. O grupo estará dentro de uma força que chamamos de consciência que circulará em todos que terão sua visão e sensação do corpo aumentada e cada vez mais a distância entre o grupo e  a pessoa que está dormindo aumentará. Isto poderá acontecer com uma ou mais pessoas  e esta achará que todos estão errados e que são maldosos, que tudo é sem sentido dentro dessa concordância. Se nós percebemos que isto está acontecendo com a gente, devemos imediatamente parar de se movimentar , colocar a atenção na postura e ficar de uma forma que não necessite de esforço físico, relaxar os músculos gradativamente, não procurar entender nada, nem defender nenhum ponto de vista por mais “razão” que pense ter, deverá somente sentir e observar seu próprio corpo, olhar para as pessoas sem julgá-las e não deixar as vozes interiores interferir, ficar em estado de alerta consigo mesmo, fechando a “porta” e não deixar a desconfiança entrar, apenas observar e estar presente esperando uma situação interior melhor. Se  conseguir isto, entenderá que existe uma força viva, uma energia que está à disposição do grupo e quando falar  haverá uma compreensão única, não haverá discordância dentro do grupo. Esta força não termina quando o grupo se separa fisicamente e cada um vai para o seu lado levando esta energia que poderá ser usada quando necessitar. A energia que acumulamos com os esforços de um trabalho é para a formação não de somente um corpo particular, mas de uma egrégora que permanecerá no grupo enquanto ele existir em sua formação de esforço e até além , se conseguirem armazenar uma quantidade suficiente para a existência do grupo em outras realidades (mundo astral). Para que esta força exista é necessário haver no grupo um sentimento de união, algo que seja amizade e confiança, não confundir com pieguice e identificação com uma ou outra pessoa, por exemplo: pai e filho, mãe e filho, marido e mulher, etc...pois esta ligação é perniciosa quando o grupo se reúne pois este tipo de sentimento é de quem está dormindo e está satisfeito com sua vida e confunde gostar com Amor e identificação com carinho. Os grupos ao se reunirem devem antes de tudo esquecer os laços e correntes que existem no estado de sono desperto. Uma pessoa que se considera carinhoso, bonzinho, etc...não está em condição de trabalho na 2a linha de Trabalho (fazer algo pelo grupo), só estará apta para a 1a linha de Trabalho (fazer algo para si mesmo) e não trabalhar com outras pessoas que desejam acordar e duvidam de sua própria condição de estar desperto. Há aqueles que querem acordar por não estarem satisfeitos interiormente consigo mesmo e há outros que se acham bem e sem problemas e que estão com a “razão”. A mesma razão que leva os homens à guerra, à morte e a disputa entre nações inteiras e até famílias a se gladiarem com outras famílias por vingança e etc. Dessa razão devemos fugir e não aceitá-la como linha de trabalho em nosso caso. Nós do Grupo de Gurdjieff não devemos esquecer dessas 3 linhas de Trabalho:

  • Trabalho sobre si mesmo
  • Trabalho com o grupo
  • Trabalho para o grupo
 Os grupos não são formados por vínculos de amizade, mas por capacidade de fazer o que se pede como exercício e obrigações psicológicas que dá a condição de um aumento de consciência numa determinada situação, principalmente quando a reunião está com a finalidade de um aumento de consciência. O nível de consciência de si de uma pessoa é a soma de seu esforço durante o Trabalho e não o esforço que ela está fazendo no momento dos exercícios. Isso quer dizer que mesmo que uma pessoa esteja aparentando distração e normalidade,ela é o produto do que fez durante os dias de Trabalho sobre si e seu equilíbrio e raciocínio é determinado por esta situação interior.