sábado, 5 de dezembro de 2015

MUDANÇA DE NÍVEL DE SER

Toda pessoa que está satisfeita com o que é, com o que sabe e com o que faz não tem possibilidade de mudar seu nível de ser. Temos que primeiro acreditar que podemos ser melhores, tanto na compreensão intelectual como no nosso sentimento. Para iniciar temos que fazer observação em tudo o que somos não aceitando como final os dados colhidos. Então vamos dizer que gostamos de um determinado tipo de música; devemos lembrar que isto não é definitivo, mas ao ouvirmos a música, apenas senti-la sem deixar a cabeça interferir; como também o que observamos em nós, e nos outros, Como fruto de algo que já sabemos ou compreendemos.
Temos o costume de agradar certas pessoas e ignorar outras. Devemos observar este sentimento, também, como algo mecânico de distração. Por este motivo, os casais se auto- estimulam neste tipo de situação, quando não estão atentos. A observação de si é algo que requer um esforço de continuidade, para um tipo de armazenamento de energia, que não é comum ao homem. Até nossas conversas, interiores e exteriores, possuem esta mecanicidade; então devemos tratar de todos esses casos como algo a ser estudado, através  de um relaxamento do corpo e da observação imparcial de si. Quando dormimos, isto é, passamos  do estado de vigília para o estado de sono com sonhos, vamos deixando gradativamente, os apegos da vida. Primeiro, deixando aquilo que vemos, por isso fechamos os olhos antes de dormir. Depois, os sons vão ficando distantes até não ouvirmos mais. Neste momento o corpo começa a relaxar. Esse processo de desprendimento também deve ser seguido por nós se quisermos acordar. Devemos ir nos desligando gradativamente, inversamente, de tudo que nos prende.Primeiro tomando uma postura que não seja comum e mantê-la, sentindo o corpo, relaxando os músculos, pois se estivermos tensos com atenção nele ou tencionado propositalmente. Este deve ser seguido por não fixar a atenção em um determinado som , mas nos ouvidos  que recebem todos os sons exteriores, nossos olhos podem até estar fixados em algum ponto, mas a atenção não deve se fixar nele; e dentro de nós, não aceitar as vozes interiores como algo nosso.
Nas reuniões e Gurdjieff, devemos , ao estarmos no local, lembrar porque viemos e o que estamos fazendo; é onde a atenção deve ser de maior intensidade possível; desde os assuntos até aquilo que estamos fazendo deve ser objetivado em aumentar o nosso nível de atenção. Como viemos para um local de trabalho sobre si, não é local para dar continuidade ao chamado esquecimento de si. Os filhos, namorado, marido, amigos, não devem ser tratados como tal, e ao iniciar uma reunião, até o seu término os tratamentos da vida exterior devem ser totalmente abandonados pois, do contrário, permanecemos na mesmice de antes de chegar. É lamentável que nós percamos um tempo precioso com o continuísmo daquilo que somos, pois uma mudança de nível de ser requer um esforço muito maior do que fazemos. Sempre julgamos que estamos fazendo muito, quando na verdade estamos fazendo o mínimo.
Quando nos deparamos com o inevitável, que pode ser desde um simples tropeço até a morte, não estaremos acompanhados; estaremos com nós mesmos. Muitos pensam, erroneamente, que o trabalho tem local. Na verdade, onde quer que estejamos com atenção, devemos nos preparar para o inevitável. Isto não quer dizer que devemos agir friamente com as pessoas que gostamos, ou não. Devemos fazer tudo o que gostamos, mas não esquecermos de nós mesmos em momento algum.  Quando nos depararmos com algo corriqueiro, distraidamente não temos possibilidade de escapar das fatalidades, mas se estivermos com atenção estamos mudando o nosso destino.
O homem como é não tem destino; tudo acontece em sua vida. Uma hora está alegre outra hora está triste, nervoso, bravo, ranzinza, se quisermos deixar tudo isso para trás, um dia, não devemos aceitar nada do que somos naquele momento, e com humildade, deixar o que não conseguimos controlar fora de nós fluir e seguir o seu destino, pois nós estamos construindo com nosso próprio esforço, e o homem comum, na sua distração não pode dizer que gosta de alguém , pois não gosta ainda de si mesmo.

(Itaboraí, 25 de junho de 2003 )

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

QUERER

O querer requer um estado de Consciência de Si. Além disso, a pessoa tem que ter uma persistência emocional, intelectual e motora, até podemos falQar que é vontade e não desejo, pois este se se parece com o querer.
O desejo vem do Centro Intelectual. Mas pode vir do motor, que induz a satisfação do centro, por isto a pessoa que inicia algo pode até conseguir, mas não fica mais acordada do que antes, ao contrário, quando alcança o seu objetivo, fica mais mecanizada e identificada com o objeto que se empenhou.
No caso do querer, devem participar no mínimo três centros. A cabeça almeja algo que o sentimento procura conseguir. O corpo, através da ação (prática), faz tudo para alcançar seus objetivos e para isto tem a necessidade de sacrificar a identificação consigo mesmo, auto-comiseração e outras manifestações que levam uma pessoa aos sonhos. Durante a trajetória de um esforço consciente, criamos dentro de nós, a compreensão de nosso próprio sacrifício, nos fortalecendo cada vez mais. Por isso ao alcançarmos o objetivo, este já não é mais atraente e nem valoroso, pois conseguimos algo para nós mesmo que é superior ao objetivo. Vamos dar exemplos: duas pessoas: A e B. A primeira possui algo dentro de si e o Trabalho de Gurdjieff é uma realidade de sua vida.    Esta pessoa quer um carro, mas começa a trabalhar para consegui-lo se esforçando cada vez mais até comprá-lo. Quando consegue isto, o carro já não é tão atraente, possui menos valor do que no pensamento inicial e até pode pensar que não vale a pena tanto esforço por aquele objeto. Outra coisa, o que quer se torna mais fácil conseguir , até é melhor, mas já não lhe interessa.

A segunda pessoa, apenas quer o carro e faz tudo para consegui-lo. Durante este empenho se identifica com o objetivo a ser alcançado e quando o consegue fica tão feliz que seu estado de sono aumenta mais do que quando iniciou. Ao conseguir comprar o carro terá dificuldade de ter outro, mas dentro de si estará radiante, aumentando com isto o orgulho, vaidade e identificação. A cima de tudo acha que valeu à pena a perda de tempo para consegui-lo e que foi algo de bom para sua vida, que foi trocada por algo externo e não interno como o primeiro que ao ter este intento armazenou dentro de si uma experiência de aumento de consciência  para a sua vida comum e interior.
Uma pessoa inicia o treinamento de karate para sua auto-defesa e melhora sua condição de brigar. Após ter treinado alguns anos alcançando este objetivo, percebeu que isto não tem importância  em sua vida, o que mais lhe interessa é aperfeiçoar  sua técnica , não para brigar ou se defender , mas para ter dentro de si aquilo que conhecemos como confiança e auto-controle. Isto se torna mais o importante para seus treinamentos.
Alguém que inicia o Trabalho de Gurdjieff com o objetivo da imortalidade através  de um esforço pessoal, começa com o passar do tempo a ver defeitos em si mesmo, como distrações, raiva, identificações, tristeza pelas identificações. Ao distrair-se, não consegue impedir nada que a torne mecânica e com isto fica com raiva por estar sendo contrariado, pois acha que sempre está certo em seu raciocínio, tirando a possibilidade de Observação de Si e  de ver o que está acontecendo consigo e ao mesmo tempo com as outras pessoas. Mesmo que haja cinco ou mais discordando e sendo todos do Trabalho de Gurdjieff. Nesta situação, se cria uma impossibilidade de Observação de Si, pois é um engano achar que estar sentindo o corpo seja o suficiente para se parar um processo de sono depois de iniciado.
Podemos até dizer que aquela pessoa não quer, não tem querer e nem capacidade no momento para acordar e verificar que está errada por estar dormindo. É um processo de fácil observação dentro de um grupo, tanto pela tonalidade de voz, pelos movimentos e a atitude facial de que não pode estar com fantasias,  com isto se defende, tentando explicar  uma razão para sua ação.
Dentro de um trabalho de grupo, quem não está identificado vê a identificação do outro. Fica mais fácil se houver mais pessoas no grupo com este objetivo. Mas, uma outra pessoa que antes estava vendo, pode se identificar com o processo e se distrair, parando de ver a sua própria identificação, caindo também no estado de sono. Isto não acontece se estiver presente  antes de ser questionado por alguma atitude ou entrar no assunto.
Quando  alguém já está identificado e se inicia uma observação de outras pessoas, é difícil ela conseguir impedir o seu desenvolvimento sem o querer , que chamo de humildade de não saber  o que está  passando consigo mesmo , nem com os companheiros que estão diante de si no momento da reunião .
Muitas vezes a pessoa pode não conseguir a compreensão do que está se passando, mas consegue se conter e depois entenderá que não estava presente. Naquele momento da identificação a pessoa é apenas alguém que não lembra de si.

20/03/2008

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O QUE É ACORDAR


CS = Consciencia de Si
FDS = Família, Dinheiro e Sexo
TG = Trabalho de Gurdjieff

Nos Trabalhos de Gurdjieff quase não usamos este termo “Acordar”, pois o nosso objetivo é exatamente alcançar este objetivo e se por um acaso, acharemos que estamos acordado, é um engano, pois esta condição tem níveis diferenciados em cada situação de nossa vida. É fácil para uma pessoa que esteja a um bom tempo fazendo um trabalho de grupo entender o que digo, mas para uma pessoa que  nunca fez exercícios de Gurdjieff ou que fez por pouco tempo se engane e ache que está acordado ou com seu nível de consciência acima do estado de vigília.
Muitas pessoa que chegam ao grupo me dizem que já conhecem estes exercícios de sensação do corpo e que em muitas situações já fizeram e sentiram o que praticamos. O interessante é que no momento que estão falando comigo, não estão fazendo nada para estar presente e mesmo numa situação de movimentos ou Mokuso elas encontram grandes dificuldades em fazer os exercícios, mas mesmo assim acham que estão fazendo e dizem que entenderam o que está se passando em apenas algumas reuniões. O interessante é que estas mesmas pessoas após alguns meses ou anos começam a perceber durante os exercícios que raramente estão presentes e a sua atenção é limitada, restrita a pequenos afazeres, e que diante de si existem várias situações em que ela não enxerga e nem faz absolutamente nada que deveria fazer em relação a atenção que ela deveria ter em muitas ocasiões. Mesmo estando sentindo o corpo e querendo estar com o máximo de atenção, existe uma limitação da própria pessoa, pois seu corpo de CS ainda está em formação. Isto acontece quando o grupo está reunido e todos tem esta finalidade: acordar e permanecer nesta condição de atenção. A todo momento vemos que o esforço dentro do grupo é difícil de se manter em um nível desejado. Agora pergunto : E quando estamos longe um do outro, junto de pessoas que dormem e acham que estão acordadas e que acham que sabem o que fazer, como fica a situação de alguem que está no trabalho? É fácil de se perceber que acontece da pessoa procurar estar presente, mesmo que parcialmente. Mas cada esforço de que fazemos é uma soma para o acúmulo da consciência que dia a dia pode aumentar, até se tornar uma Consciência de Si.
Dentre os vários  Eus  que temos dentro de nós cada eu representa uma força e a soma deles é que produz o que somos na vida. Uma pessoa que está no trabalho de Gurdjieff e se considera firme, que nada o abalará, que seu objetivo é ser imortal etc. mas desconhece que existem  a  força dos Eus  que não estão no trabalho e que somente a própria pessoa tem capacidade de ver e saber de sua existência, mas quando vêem um pouco fogem e procuram justificar seus gostos e até sua compreensão limitada.Alguém está no Trabalho de Gurdjieff porque ainda não apareceu algum tipo de tentação que o tire do trabalho. Pode ser algum emprego cuja remuneração é boa, mas o impedirá de participar de participar das reuniões. Como também algum curso da área que a pessoa dê mais valor do que sua própria evolução. O seu C.G. não é do trabalho sobre si os Eus que estavam adormecidos, podem acordar de repente e ficar até furioso se alguém discordar. Com essas pessoas devemos não tentar mostrar a ilusão em que estão metidas, mas nos afastarmos das idéias dela e observar de longe, sem tentar mudá-las.
Elas não são do trabalho, estavam no Trabalho de Gurdjieff. Quando alguém dentro de si mesmo pode se considerar do trabalho, é pelo simples motivo em que ela descartaria tudo em sua vida para a sua evolução. Seu centro magnético existe e o restante em sua vida que em seu redor, começando com a família, serviços etc, o FDS não lhe atinge.
Uma pessoa pode passar alguns anos sem que apareça uma oportunidade tentadora, mas quando aparece ela ela não tem dúvidas, a sua vida é aquilo, então quando  ela pede uma opinião a alguém, já está decidida a prosseguir em seu real objetivo que acaba sendo outras três forças negativas que tira a maioria das pessoas do Trabalho de Gurdjieff. Então o acordar passa a 2º plano e seu sono vira acolhedor e gostoso.

A soma de nossos momentos é o nível de nossa vida.
Muitas pessoas acham que os exercícios do Trabalho De Gurdjieff somente tem valor quando  é de grande sacrifício físico ou mental. É um engano a pessoa pensar que somente consegue alguma coisa se fizer um esforço grande e contínuo durante anos se os seus momentos foram de sacrifício durante a vida. Algumas pessoas entram para o Trabalho De Gurdjieff, trabalham e fazem coisas muito melhor e com mais aparência do que uma outra que já está a anos fazendo a mesma coisa. Se alguém olhar, vai ter uma idéia errada de nível de ser. Essas pessoas são passageiras e sem determinação e a qualquer obstáculo do FDS a pessoa terá toda razão para parar tudo e não fazer absolutamente mais nada para adquirir um outro nível de consciência.
Em uma reunião, se perguntarmos a qualquer um se o Trabalho De Gurdjieff é bom, prontamente responderão que é a melhor coisa da vida e que jamais deixarão de fazê-lo e se olharmos a pessoa naquele momento, até poderemos nos enganar pela maneira da pessoa falar e fazer. Até a própria pessoa se achará melhor do que as pessoas do grupo que tem mais tempo de treinamento e estudos. É um engano. O que determina um grau, é a  perseverança numa direção, vencendo todos os obstáculos interiores e exteriores, aí é que está a diferença entre as pessoas que trabalham sobre si e uma pessoa comum. Enquanto estas pessoas fazem o que querem, o que gostam e param quando alguma coisa não é como ela quer;  uma pessoa do Trabalho De Gurdjieff persiste e continua a se observar, observa as partes de si mesmo que não quer ter e até se desfaz das partes que gosta mas que lhe faz dormir. Não é pelo que a pessoa acerta ou erra que vemos o seu grau de acordar ou dormir, mas pela perseverança e humildade.
Vamos dizer que alguém perde o controle emocional num determinado momento e em seguida assume novamente, claro que ela lembrará de tudo o que lhe passou e então falará: “dormi muito, não pude me controlar.” – e continuará a fazer exercícios, etc, como se nada tivesse acontecido, mas procurando não repetir o pesadelo que se passou. Esta pessoa tem alguma coisa já acumulada dentro de si que é o fruto do Trabalho De Gurdjieff.
Uma outra não perde o controle, mas por algum motivo vê que houve alguma coisa que vá contra seus princípios que nada mais é do que a cama em que se dorme placidamente. Por este ou aquele motivo parará de freqüentar as reuniões e com o tempo apenas será mais um dos lembrados por nós, como algo do passado.
Firmeza é não vacilar e não parar aquilo que começou.Um outro tipo de sono é ir tão devagar que não dá para ver se a pessoa existe ou não. Aqueles que vem as vezes, outras não, começam algum tipo de trabalho manual e não terminam e assim o tempo vai passando e a pessoa ficando para traz apesar de estar aparentemente junto. É fácil perceber aqueles que defendem princípios e ideais próprios, quem defende não quer ver. Quem quer ver, quando vê algo em si mesmo que alguém mostra, aceita sem contestação e procura trabalhar em cima do que lhe mostraram pois nunca consegue ver sozinho. Quando imediatamente se justifica e tenta explicar o que não sabe nem de si e nem dos outros, procurando dizer que está certo e que é a sua maneira de ver, assim continuará errando na maneira de se observar, isto é, continuará dormindo .Qualquer que seja a correção que algum companheiro faça sobre nossa atitude não interessa se está certo ou errado, devemos parar e nos observar por um longo tempo vários momentos e procurar descobrir como o companheiro conseguiu ver aquilo em nós e nós não. Um grupo não é para elogios pessoais, é para marretar a cabeça que esteja dormindo sem piedade e nem benevolência, quem agüentar é porque está acordando para si mesmo, pois sabe que está ali para isso.
Um grupo existe para que, quando um estiver dormindo, o outro um pouco mais acordado o ajude a se enxergar. Ajudar o companheiro a se enxergar é mais ou menos assim: um companheiro A reclama que comam dentro do seu carro pois não quer que tenha barata nele, mas os outros 12 companheiros sabem que a casa dele está cheia de barata, o seu banheiro tem o chão coberto de carpete onde um homem faz xixi e respinga no carpete, ninguém limpa o carpete, só varre e o cheiro fica insuportável, pois é o dono dessa casa que não quer que comam no seu carro. Outra situação é quando um companheiro está sempre presente nas reuniões, treinos e sessões dizendo que o grupo é a coisa mais importante da sua vida, mas é só aparecer uma moreninha  que chega atrasado nas reuniões, não participa das sessões para poder comer pipoca com sua moreninha e desobedece a etiqueta do karate para que sua moreninha saiba mais que os outros.Temos que tomar muito cuidado também ao observar externamente esses erros, pois isto é fácil de se fazer, devemos é ver esses erros também que nos incomodam criando situações alheias ao Trabalho de Gurdjieff. Num caso desses não devemos ficar quietos, mas também não deixar que estes fatos pejudiquem nossa observação, se tornando meramente social.
Sabemos que temos vários Eus que se apresentam de acordo com a situação externa. Muitos deles se fortalecem formando até grupos unidos que a cada momento de distração vão crescendo, chegando ao ponto de ficar mais forte do que os outros Eus, então a pessoa começa a manifestar idéias contrárias a linha de trabalho. Claro que se perguntarmos a pessoa qual é a coisa mais importante de sua vida, imediatamente ela falará que é oTtrabalho pois este é um tipo de defesa muito sutil que normalmente acontece com as pessoas que não se observam e afirmam ter e ser o que não são.
Algumas pessoas do grupo possuem esse tipo de Eu, que é facilmente visto por mais disfarçado que seja. Quando dois ou mais de um grupo vêem o defeito de uma pessoa é muito sério esta atitude de calar e observar o Eu invisível, pois a pessoa não deve em hipótese alguma justificar ou se defender. Deve calar e ficar em alerta para todas essas manifestações que vêm desses Eus negativos. Se a pessoa não se observar vai chegar a um ponto em que esses Eus negativos assumem o controle da vida da pessoa, até o ponto da pessoa desistir de evoluir e achar que está certo, ficar isolado das outras pessoas até que a vida vem com sua correnteza e a leva para seguir a vida comum.
A primeira atitude que a pessoa tem é começar disfarçadamente a se afastar do grupo de Trabalho com desculpas plausíveis e até lógicas, vai seguindo assim até chegar num ponto insuportável e ela não dá mais importância ao seu próprio destino que antes era a coisa mais valorosa. Uma outra forma perigosa de influência externa é o aparecimento do FDS que vêm de várias formas como se fosse algo acidental e a pessoa acha que se afastando por um pouco de tempo vai conseguir voltar melhor depois, é uma ilusão, pois o afastamento de alguém do grupo de trabalho somente traz enfraquecimento. O fortalecimento do Eu do Trabalho somente existe através da perseverança e continuidade. Se por um acaso a pessoa estiver em uma missão continuará se fortalecendo e isto não é considerado afastamento do trabalho pois isto é um tipo de sacrifício e até mesmo de observação de si ao se deparar com Eus do passado.
No Trabalho não devemos esquecer quais são os nossos objetivos de evolução e as nossas práticas não devem ser prejudicadas pelo FDS, pois podemos até nos enganar achando que a vida está uma maravilha com passeios de praias, shoppings e florestas, mas não podemos esconder de nós mesmos a nossa insatisfação com a condição de sono em que vivemos
Um integrante do grupo tem que ter a humildade de reconhecer que os outros estão certos quando falam a seu respeito e mostram seus defeitos e os outros integrantes do grupo devem observar os erros dos companheiros e não se prender a eles, lembrando de se observar antes de tudo. O Samurai afia a lâmina da sua espada para matar o inimigo, mas se for necessário ele se matará também.
(5 de Novembro de 2003 )





terça-feira, 22 de setembro de 2015

EMOÇÕES E MANIFESTAÇÕES

Escultura do artista corenao Choi Xooang

Sabemos que temos dois tipos de manifestação de emoções.Uma positiva (felicidade, riso, alegria) e o contrário é negativa(ódio, raiva, mágoa, etc) que nos rouba energia que precisamos para adquirir um aumento de consciência, isto é, para acordar.Devemos evitar de demonstrar as manifestações desse tipo de emoção que chamamos negativa porque nos tira a energia que acumulamos anos.
            Existe uma que é fácil de ver, quando a pessoa grita, vocifera, faz movimentos bruscos e pode até chegar a agressão verbal ou física.Consideramos esta como explosão emocional, falta total de controle sobre si mesmo e que é a pior coisa do Trabalho de Gurdjieff.
            Quando uma pessoa se manifesta com Energia Negativa (E.N.). tudo nela muda, desde os movimentos dos braços, pernas, pescoço,até a tonalidade da voz que pode estar baixa mas dá para se perceber que a pessoa está com E.N.E se tiver mais de duas pessoas no mesmo lugar todas veem o que está acontecendo com a pessoa menos ela.Dentro da cabeça de uma pessoa com E.N. ela se acha certa na forma de “pensar” fantasiar dizendo:Estou certo, penso assim;acho que estou certo mas não me entendem,etc.Quando deveria dar uma pausa e verificar porque está “pensando” daquela forma e também sentindo este tipo de emoção.
            Quando participamos de um grupo de T.G. não interessa estar certo ou errado.O que tem importância é estar atento e procurar fazer algum tipo de exercício para ter a possibilidade de ver o erro, não dos acontecimentos exteriores, mas do interior, dentro de si mesmo.Uma pessoa do T.G. não pode perder o controle emocional que tem várias formas de manifestações apenas por achar que está certa nisso ou naquilo e assim continuarão as divagações interiores que são alimentadas pelo tipo de sentimento que existe e que não é bom.Ao observar alguém temos que olhar os olhos da pessoa, movimentos, escutar sua voz e comparar com a anterior quando ela está normalmente apenas distraída rindo, falando,trabalhando, etc.
            Muitas vezes eu digo que estes momentos de aparente controle e que a pessoa diz estar feliz é o pior momento de observação de si, pois a ilusão de que aqueles momentos são eternos é falsa, tudo isto passa e até podemos observar que é cíclico.Uma pessoa quando está aparentemente feliz deve aumentar sua observação a si mesmo, para que aquele sentimento bom permaneça para sempre e não seja algo passageiro e também para que alguns momentos continuem e não sejam interrompidos por uma pequena distração e a E.N. retorne com seus eus já conhecidos.
Vemos que cada pessoa possui uma certa facilidade em determinados assuntos a se tornarem negativas como, ciúme,vaidade,avareza,preguiça e outras que fazem a pessoa dormir e achar que está certa.
Como vemos a pessoa que está com E.N.? Para alguns ficam mais feias, duras, sem graça e até grosseiras.Tudo isso a maioria já sabe.Agora pergunto e quando percebemos em nós a E.N. já em andamento como vemos os outros que não estão?Primeiro é que todas estão erradas, somente nós estamos certos.Mesmo que três pessoas discordem de nós, o “pensamento” continua a achar que está certo, não há como mudar isto.
O que devemos fazer, então numa situaçao desta?
            Primeiro começar a duvidar de si mesmo, achar que poderá estra errado e acima de tudo não se defender nem justificar querendo mostrar que está certo ou errado.Vamos dizer que na atitude exterior esteja certo, mas na interior está errado pois era com E.N. Não importa o errado ou o certo, o que temos que ver é que estamos negativos, não conosco, mas com todos, até o momento e assim estamos dormindo e temos que acordar, e este sono permanecerá enquanto acharmos que estamos certos.É uma cola que ainda está nos unindo à negatividade e que pode levar dias até meses ou anos.Vamos dizer que seja passageiro, chamamos de raiva, pois em seguida passa e até rimos de nossa atitude.Mágoa que é um sentimento pior ele passa aparentemente, mas volta, mesmo depois de meses ou anos do acontecimento e ele é o primeiro degrau para o ódio, a única diferença é que o primeiro apenas nos corrói por dentro, sem prejudicar a outra pessoa, enquanto o outro espera uma oportunidade para prejudicar a outra pessoa fisicamente ou emocionalmente querendo que a pessoa também passe a sentir o mesmo que está sentindo e a pessoa nesta situação procura fazer com que até outras pessoas que nada tem com isto, passe a sentir o mesmo que ela está sentindo. Ódio.Este sentimento não tem limite de maldade..
A E.N. chega quando achamos que estamos certos, no momento de distração e com isto as outras opiniões estão erradas, não existe a humildade de aceitar que também pode estar errada.
Para verificarmos se aquele sentimento ainda existe basta puxar o mesmo assunto que a pessoa passa a sentir o que antes sentia, E.N. , e se transtorna, muda completamente a atitude, mesmo que queira fingir que esqueceu e que nada sente.
Qualquer que seja o que achamos de uma E.N., não devemos esquecer que o único erro é que faz a pessoa dormir e nada ver, nem si, ou ao seu redor, fica cega, surda e com a razão de tudo por não admitir que possa estar completamente errada consigo mesma por permitir ter dentro de si aquele tipo de sentimento que pode trazer doenças, desarmonia e tristeza.
Outra coisa , temos que saber diferenciar a tristeza de uma raiva.O sentimento de que as pessoas não concordam com nós é raiva e às vezes chamam de tristeza e não é. A tristeza não possui a razão do C.I..É apenas o silêncio de sua própria pequinez diante de sua própria fraqueza em não poder controlar estes tipos de sentimento inferior e que no momento é superior às forças que a pessoa possui e que também pode aparecer nos momentos em que percebemos que entristecemos pessoas que gostamos e não sabemos como tirar aquilo que fizemos com os outros. O erro nos entristece e a raiva faz acharmos que estamos certos e com isto imaginamos que existe a tristeza.Isto é falso, temos que ser sinceros com nós mesmos para diferenciar estes tipos de sentimento completamente diferentes. 5/12/2007


segunda-feira, 14 de setembro de 2015

CONSIDERAÇÃO



Há dois tipos de consideração: a interna e a externa. A consideração interna é aquela que qualquer pessoa possui e que consiste no seguinte: o melhor para mim e o resto para os outros. Ou o melhor é para os meus e o resto é para os outros, ou então, primeiro eu e depois o resto e assim em diante. Se agrado uma pessoa é porque ela me agrada, ou porque tenho interesse nessa atitude, vou lucrar e ganhar com isso. As pessoas, a partir dessa consideração não vêem a outra, só vêem seus interesses. Não conseguem perceber que todos nós participamos de um modo de viver e que nosso Pai Comum trata a todas as pessoas com as mesmas leis. Esse tipo de consideração não precisa de esforço nenhum, e assim não vemos nem o que está acontecendo, nem por que está acontecendo.

A consideração externa para ocorrer tem de ser, acima de tudo, com um esforço de consciência, isto é, uma observação de si, pois sem isso, aquilo que chamamos de consideração, nada mais é do que uma atitude mecânica. A consideração externa é fruto de um trabalho sobre si e não uma atitude que visa lucros nem uma demonstração de educação ou benevolência, para a pessoa se sentir satisfeita com o que fez.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A vida só é real quando eu sou!

“...Portanto, se vocês querem realmente adquirir em si próprios a única coisa que distingue o homem de um animal comum, em outras palavras, se querem ser tais como a Grande Natureza lhes deu a possibilidade de ser, com a condição de que tenham um verdadeiro desejo disso - um desejo que emane das três partes independentemente espiritualizadas do seu ser - e se empreendem esforços conscientes para transformar-se numa “terra trabalhada”, apropriada à germinação e ao crescimento daquilo sobre o que repousa a esperança do Criador de Todas as Coisas Existentes, então vocês devem, a todo o momento e em todas as circunstâncias, lutando contra as fraquezas que se encontram em vocês em conformidade com as leis, chegar a qualquer custo à total compreensão e, depois, à execução prática deste exercício, tal como acabo de lhes expor. Vocês terão, então uma chance de cristalizar conscientemente em si mesmos os dados suscetíveis de engendrar esses três impulsos, que devem obrigatoriamente existir na presença geral de todo o homem que tem o direito de chamar-se uma criatura à imagem de Deus...”

( “A Vida só é real quando Eu Sou”, Gurdjieff )



sexta-feira, 17 de julho de 2015

CONSIDERAÇÃO INTERNA E EXTERNA

                CONSIDERAÇÃO INTERNA E EXTERNA

               Qualquer pessoa tem a consideração interna que nada mais é do que egoísmo ou distração. Sempre estamos prontos para defender nossos interesses mesquinhos e ordinários mesmo que para isso tenha que prejudicar a maioria das pessoas. Um homem pode viver normalmente no sono da vida, na consideração interna, pois não há necessidade nenhuma de um esforço para tê-la. Não devemos esquecer que nem sempre a consideração interna é direcionada para os interesses pessoais, pois uma mãe, um irmão ou um amigo podem defender seus interesses que aparentemente não são deles, até uma pessoa que esteja fazendo algo de ¨bom" para ajudar os outros pode estar perfeitamente só pensando em si próprio pois é difícil percebermos essas manifestações.
               Quando uma pessoa ou um grupo de pessoas fazem algum esforço filantrópico, nada mais está fazendo do que satisfazer sua própria vaidade ou achando um meio de fazer algo elogiável para que seja aplaudido. Uma pessoa que se dispõe a ter consideração externa precisa acima de tudo estar com uma atenção em si própria, em sua voz, em seus movimentos, e simultaneamente na pessoa ou pessoas que estejam por perto ou não. A consideração externa é o nível de atenção inicial para uma OS. Muitas pessoas confundem achando que apenas por ser educado está tendo consideração, isto é um engano. Nós do TG devemos, a todo o momento estando sozinhos ou não; além de também sabermos se o que estamos fazendo ou falando é ofensivo ou se é somente algo de nosso interesse e de mais ninguém. Em qualquer momento estando sozinhos ou não, nós temos que estar perguntando o que deveríamos estar fazendo ou o que deveríamos fazer para que tudo esteja em harmonia com nosso nível de ser ou consciência. A consideração externa é a atenção no equilíbrio, para isso, temos que tê-la dentro de nós. Uma distração traz a não observância do externo nem mesmo do interior. A consideração externa é sempre útil a todos e não a apenas uma pessoa mesmo que aparentemente a pessoa tenha que sacrificar algo de si em prol de outrem. Quando fazemos algo esperando um agradecimento ou uma recompensa mesmo que seja bom para todos, a ação veio do egoísmo e não pode se considerar uma consideração externa. Quanto mais alto o nível de ser mais difícil de perceber que a sua atitude é uma consideração externa. Vamos dizer que um professor de luta seja amigo e benevolente com seus alunos e um outro seja cruel e exigente, ao olharmos será difícil perceber qual dos dois é mais útil para seus alunos só o tempo é que poderá dizer qual teve maior consideração ou cons. externa pelos seus alunos. A consideração externa nem sempre é o que a pessoa deseja e faça para ela por isso. Ao fazermos algo com a intenção de Trabalho e de termos consideração externa devemos de antes de começar qualquer coisa estarmos com muita atenção primeiro em nós mesmos com as seguintes perguntas: "o que eu quero com isso ?", "porque faço isso ?", o que isso é de bom ?", "pra quê serve isso ?" etc. Se estivermos presentes e lembrarmos que todos os momentos passam, bons ou maus e importância de nossos atos não devem ser somente para o momento pois as nossas atitudes relacionada com as de outras pessoas tanto podem ser dirigidas por nós como acontecer simplesmente como um fato sem nenhuma importância. O que fica de tudo o que fazemos
são os momentos de consciência, pois estes é que são os valores de todos os atos que praticamos. Quando tudo se tornar apenas uma lembrança, fica gravado em nós as nossas experiências pessoais que podem se tornar algo eterno ou apenas aumentar o número de defeitos que nos levam ao sono.
 

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

CONHECIMENTO E SABEDORIA

Todo conhecimento é linear e adquirido por um único centro, normalmente o Centro Intelectual. Isso quer dizer que tudo que aprendemos ouvindo, lendo ou vendo não contribui para a evolução do ser. Para que isso aconteça é necessário o funcionamento de mais de um centro num determinado aprendizado.

A sabedoria se adquire quando o conhecimento internalizado se torna prático, e não é apenas cópia externa. Uma pessoa pode perfeitamente copiar a atitude da outra, ser até perfeita nas suas atitudes mas seu nível de ser interior não mudou nada. Como sabemos nós temos vários eus em nosso interior, cada um com sua ideia e compreensão e até seus próprios sentimentos, pois os eus utilizam os centros para sua manifestação.
Quando estamos praticando a observação de si, estamos acima dos eus e não aceitamos  nossas restritas compreensões como um fato de todo o ser, mas sim de uma pequena parte, ou de um pequeno eu que está se manifestando no momento. Vamos dizer que alguém fale algo para mim. Ao ouvir, imediatamente assumo uma postura de curiosidade ou de aceitação. Isto é uma pequena parte de meu ser. Devo neste momento duvidar de mim mesmo e me colocar numa postura de combate às minhas mecanicidades. Observo atentamente o que estou sentindo ou pensando e não tomo nenhuma atitude baseado naquela compreensão, apenas observo, tanto o meu interior, como quem fala comigo. 
Isto me traz uma possibilidade de adquirir um pouco mais de consciência naquele momento, pois não estou defendendo absolutamente nada do que eu sei e nem do que sabem, apenas observo. Ali se inicia o processo de transformação interior, pois estamos nesse momento recebendo um tipo superior de influência. Em outras palavras: estou me separando de mim mesmo. Se alguém perto de nós estiver fazendo o mesmo, imediatamente perceberá não só a intenção do assunto, como o nível de atenção que está se desenvolvendo no momento.
O conhecimento de um centro não é fruto de esforço consciente, por isso devemos a todo o momento estar sentindo uma parte de nosso corpo ao mesmo tempo em que observamos exteriormente, incluindo nessa observação o que se passa em nosso interior. Nesse caso,  estamos recebendo um tipo superior de energia (H48), que entra através das impressões e fica armazenado em nosso interior como uma forma de saber.
Para receber esta energia não interessando qual seja o assunto. Pode ser um assunto corriqueiro – futebol, esportes, família – como um assunto espiritual, pois o que importa é a maneira com a qual estamos recebendo o que está nos chegando através de nossos sentidos. 
A consciência de si não se restringe unicamente em ficar sentindo o corpo ou se auto-observando, mas na presença de tudo que esteja acontecendo ao nosso redor, devemos perceber não só o que falamos, o que fazemos, mas o que está acontecendo que necessite de nossa atuação no momento. Um homem que não esteja no trabalho, pode perfeitamente estar fazendo tudo corretamente, então é difícil perceber o que isso significa (a observação de si).
Para que tenhamos uma evolução interior efetiva, devemos nos colocar numa situação de caçador, à procura de um ponto que não esteja visível e que deveríamos perceber. Quando alguém nos alerta a respeito de algo que deveríamos fazer, isto é um momento de sono pois deveríamos perceber e sentir o que está se passando. Exatamente igual quando uma pessoa fala: se não estivermos identificados com o assunto, podemos ficar de fora apenas como espectadores do que se passa conosco e com os outros. 
Em outras palavras: é um alerta que nos conduzirá a uma situação de separatividade de nossas partes mecânicas interiores. Digamos que não haja ninguém perto de nós e estamos comendo um sanduíche. Devemos estar sentindo o corpo, percebendo o gosto do sanduíche e ao mesmo tempo estarmos alertas para o que se passa fora daquela situação, como pessoas que passam, que chegam e etc. Para a vida comum não há necessidade dessa observação interior, mas para nós, devemos incluir nessa observação as vozes interiores que nos chegam através de fatos exteriores ou de lembranças, preocupações, fatos da vida, que nos roubam energia como fantasia em nossa cabeça, trazendo até emoções negativas, nos prejudicando em nossa evolução.
Cada voz interior não deve ser levada em conta como algo de nosso ser, mas sim, de um eu que está se manifestando naquele momento. Então podemos dizer que chegou o momento de sacrifício, não deixando esses pequenos eus se manifestarem com ideias adquiridas mecanicamente.  Quando começamos nossa observação, no mesmo momento estamos adquirindo algo permanente que não necessita das funções do corpo (centros) para a sua existência e isto é a força que se tornará SABER.