sábado, 29 de março de 2014

DESTINO



O que seria destino? Um fato que não pode mudar/ Algo imutável? Antes de tudo, o destino de quê? Vamos dizer que uma pessoa nasceu numa família de carecas, inevitavelmente o destino dessa pessoa é se tornar um careca também. Já não acontece se uma pessoa for escritora, seu filho terá outro destino, pode até também se tornar um escritor, mas esse pode não ser o seu destino.
Para começar, podemos falar que o corpo denso pode ter um destino e o homem dentro desse corpo ter um outro destino completamente diferente daquele que seu corpo vai ter. Sabemos que crescemos desde criança, nos tornamos adultos e com o tempo a decreptada velhice e por final o fim do corpo denso. Pergunto: o que restou daquela pessoa? Se durante a sua vida só ficou com sua cabeça cheia de fantasias e suas emoções sempre foram frágeis e negativas? Se existiam centenas de Eus fracos e fantasiosos, tudo isso não é nada duradouro, o tempo que fica ativo uma parte da pessoa, este é o seu tempo de vida, nada dentro de uma pessoa pode se falar que tenha um destino. Mas este que até agora falamos é o mais superficial. Tudo que fazemos dormindo ou não é algo que fica em nossa vida. Se uma pessoa corta um dedo, pode ter certeza que a cicatriz ficara no corpo. As nossas ações deixam cicatrizes no destino daquilo que temos dentro de nós e que pode estar dormindo.
Tudo o que acontece é fruto de algo que fizemos antes, bem antes até de nascer neste corpo. Algo pode nos acontecer e ser um merecimento ou fatalidade. Se a pessoa pratica um esforço consciente, ele se tornará um merecimento, se a pessoa fizer algo que prejudique outras pessoas,  esta atitude se tornará uma fatalidade na sua vida vindoura. Então, as pessoas que sofrem, por mais cruel que possa parecer pode ser algo que não sabemos o motivo, mas nada é injusto. A atitude que temos perante a fatalidade de outras pessoas é devido a nossa total ignorância a respeito daquilo que conhecemos como destino.
Um homem que trabalha sobre si, que passa anos procurando uma consciência de si ou outra superior, está fazendo o destino que qualquer homem tem direito, mas não quer. Segue pela vida sem se importar com seu verdadeiro destino. Ele tem direitos que não sabe que existe. Tem possibilidades que não sabe que pode usar e usufruir na vida. Passa a vida toda armazenando coisas que na hora da sua morte não adiantará de nada,  gastou tudo que podia em fantasias e nada ficou para si mesmo. O acúmulo de sua riqueza é fora de seu corpo, então na hora de sua morte ele verá o que possui e o que acumulou no decorrer de seu esforço diário (8 horas ou mais por dia). O seu carro, apartamento, dinheiro, nada é seu, é do mundo e para onde ele poderia ir, o seu “veículo” não foi formado. A sua existência foi para gastar o que podia acumular como energia para este momento. O estranho é que a pessoa pode ter o que quer do mundo externo e ao mesmo tempo acumular no decorrer de sua vida algo para si mesmo que persista a pós a morte de seu corpo denso.
Os exercícios que praticamos é para serem usados na vida, não temos necessidade de nos isolarmos de nada. Ao contrário, temos é que participar da vida, sem estar identificados com o que fazemos e sentimos. Cada esforço do Trabalho de Gurdjieff é um acúmulo de energia que se tornará consciência. Nós não lutamos contra nada, o combate é para separarmos interiormente as nossas vozes de decisão, de ação, daquele que observa o fato. É um trabalho dentro de si que se exterioriza em nosso atos de exercícios, movimentos, domingueira, etc. Que é a prática sem fantasia que fazemos para nos conhecer, e que após isto tentamos ser o que antes julgávamos ser ou que julgávamos ter em nosso interior.

O homem fica satisfeito com o mínimo que a vida lhe dá e o Trabalho de Gurdjieff exige da pessoa algo que a pessoa não sabe que possui. Em outras palavras, a pessoa se esforça primeiro para depois saber o que vai querer da vida. Nós não falamos o que é melhor para uma pessoa, nós damos indicações para se ter uma mudança de compreensão e esco9lher por si mesmo o que é melhor para a sua vida. Quanto mais consciência, mais diferentes são os gostos das pessoas e sua maneira de viver e encarar aquilo que lhe é de valor. O homem no Trabalho muda tudo dentro de si, até o seu destino comum, que passa a ser dirigido pela sua vontade. 

sexta-feira, 21 de março de 2014

Divisões Dos Centros


Todos os centros são divididos em partes: uma parte intelectual, uma emocional e uma motora. Vamos começar pelo centro intelectual que fica situado na cabeça.
  • CENTRO INTELECTUAL: Como sabemos, no homem normal existem as vozes interiores, lembranças, raciocínio matemático e etc...
    • A sua parte intelectual é a capacidade de criação, invenção e descobrimento; que só pode funcionar através de um esforço. Os movimentos que nós aprendemos com o centro motor, inicialmente o decoramos com a parte intelectual do centro intelectual.
    • A parte emocional do centro intelectual são os desejos de conhecer,  curiosidade por tudo que nos chame a atenção, como por exemplo: ao percebermos um grupo reunido em torno de um desastre somos levados por esta parte a querer olhar ou ao ouvir algum barulho estranho quando estamos sozinhos em casa.
    • Parte motora do centro intelectual são as partes que nos leva a discussões e contestações por algo que já temos armazenado nessa região. Essa parte por sua vez também é subdividida em mais 3 partes que não vamos entrar em detalhes.Também é responsável por esta parte as frases estereotipadas, os slogans e as repetições de palavras. Não há necessidade de nenhum esforço para seu funcionamento. É nessa parte também onde existe a desconfiança, cisma e fantasias  de que somente a pessoa está certa em suas opiniões; é por esta parte que se inicia o desequilíbrio mental.
    • Como já sabemos todas essas partes podem funcionar como pensamento concreto (que são formas) e pensamentos abstratos (que são sons).
  • CENTRO EMOCIONAL: O centro emocional podemos dividi-lo em uma parte positiva ou superior e uma parte negativa ou inferior.
    • Na parte intelectual desse centro é a sede principal do centro magnético, é a busca do desconhecido. Também é a sede onde o homem é levado a grandes aventuras como descobrimentos e ida a lugares desconhecidos como explorador.
    • Na parte emocional desse centro é onde evolui o centro emocional superior e também onde é a sede de emoções religiosas, estéticas e morais que nos conduz a consciência objetiva. Se essa parte se manifesta negativamente é onde existe a crueldade, obstinação e indiferença a sofrimento dos outros.
    • Na parte motora é onde existem as simpatias e desejos pequenos e também o riso. Nesta parte  é onde gostamos ou não gostamos de uma ou outra pessoa, tudo automaticamente por uma escolha totalmente fora do nosso controle. Também os gostos literários e profissionais.
  • CENTRO MOTOR
    • A parte intelectual do centro motor são os movimentos que fazemos para nos equilibrarmos numa corda, dar um salto maior do que o necessário ( tanto em distância como em altura), segurar várias coisas simultaneamente para não deixar cair, algum movimento complexo de pintura e desenho ou aprender uma dança onde há necessidade de habilidade em sua execução.
    • A parte emocional são os prazeres dos movimentos : dança, andar, correr, nadar, lutar, etc..
    • A parte motora do centro motor são todos os movimentos que fazemos naturalmente sem esforço algum, como: se arrumar ao deitar, escovar os dentes, comer, etc... enfim, todos os movimentos já decorados.
     CENTRO INSTINTIVO: O centro instintivo como sabemos são todos os nossos sentidos.Ele já está totalmente formado. Mas pode se tornar deturpado ou viciado.
    • A parte intelectual do centro instintivo é o que conhece pelo olfato ou paladar o que é necessário para o corpo como alimento e sua quantidade necessária, como também define a defesa do corpo pelo susto de sons estridentes (audição).
    • A parte emocional do centro instintivo é o prazer do descanso, como também do esforço equilibrado dos músculos.
    • A parte motora do centro instintivo é a visão, assimilação e excreção tanto dos alimentos como dos suor.

  • CENTRO SEXUAL: É dividido em 3 partes, as quais são diferentes dos outros centros.
    • Atração pelo sexo oposto.
    • A Indiferença tem duas divisões : 1) Mistura ; 2) Igualdade
    • Foi criada artificialmente pela má educação social que é a repulsão, que podemos até considerar como uma doença.
    • No caso de lesbianismo e homossexualismo é a interferência de outros centros e não a mudança do funcionamento do centro sexual. Ë a emoção que entra ou o centro intelectual.
  • CENTRO INTELECTUAL SUPERIOR: Não existem as partes negativas. É a criação artística objetiva.
  • CENTRO EMOCIONAL SUPERIOR: Não existem as partes negativas. Emoções de êxtase e sentimentos superiores que dificilmente um homem que não seja fruto de um esforço sobre si consiga.
Todos os centros devem trabalhar harmonicamente para ser possível uma evolução interior efetiva e para isso temos que conhecer como funciona  nosso corpo psicológico e físico dentro daquilo que conhecemos como essência e personalidade.


quarta-feira, 19 de março de 2014

Grupo do Trabalho de Gurdjjief atualmente

            Somos o GTG, Grupo de Trabalho de Gurdjieff. Este grupo formou-se sob a orientação de Benedito Nelson no ano 2000, no Rio de Janeiro. Kyoshi, como é conhecido Benedito Nelson por seus alunos de Karate, então já dedicava mais de vinte anos às práticas e estudos contidas no Quarto Caminho. Inicialmente, o maior número de participantes do grupo compunha-se de estudantes de teatro, que entraram em contato com as publicações relacionadas ao Trabalho em suas pesquisas relacionadas à arte.
Com o passar dos anos este Grupo se firmou com mais participantes, vindos de diversas origens culturais e étnicas. Nas reuniões semanais, que aconteciam na residência de Benedito Nelson e de sua esposa, Maria Nayara Arnaud Tavares Augusto dos Santos, recebemos orientações para o desenvolvimento harmonioso de cada um do GTG, enquanto atuávamos em diversas atividades para o desenvolvimento da atenção.
No final do ano de 2004, após intensificação de nossas atividades, nos mudamos para o estado de Rondônia, onde construímos o Condomínio dos Samurais, sob a supervisão direta do Orientador do GTG, que se dedicou exclusivamente a transmissão de seu conhecimento em diversas áreas a seus alunos do GTG. Além disso, os participantes do Grupo que permaneceram no Rio de Janeiro mantiveram o compromisso com o GTG e permanecem se reunindo. O Grupo se expandiu para Belém, no estado do Pará, e também um grupo para iniciantes no Quarto caminho se formou em Porto Velho, Rondônia.
No dia 1º de Agosto de 2013, após um difícil processo de recuperação pós-cirúrgico, veio a falecer nosso Mestre e amigo Benedito Nelson. Após um breve período de reflexão interna, nós, alunos e praticantes do Trabalho de Gurdjieff, seguimos com sua obra nas práticas e estudos do Quarto Caminho.
Como alunos, fomos testemunhas da grandiosidade de sua obra, fruto da atenção e observação de si praticados por mais de quarenta anos. Omaior empreendimento de sua vida foi o esforço e sacrifício para o conhecimento de si mesmo e o desenvolvimento da psicologia da possível evolução do homem. Este esforço, materializado na dedicação diária e ininterrupta aos praticantes do GTG que o acompanharam, resultou na solidez do Grupo, que se mantém firme no intento de vencer o sono e a mecanicidade humanos, a fim de conhecer a verdadeira potencialidade do espírito humano em uma vida na Terra.

            Dando continuidade aos esforços do Kyoshi, nosso mestre de Karate, amigo e conselheiro, a orientação de nosso Grupo está sob responsabilidade de sua viúva, Maria Nayara,também praticante do Trabalho e aluna de Karate, e de nosso companheiro de Grupo Bruno Mendonça Guimarães, ambos escolhidos pelo Kyoshi em vida para esta tarefa de manter sua obra fiel aos ensinamentos e práticas do quarto Caminho. Deste modo, estes dois alunos de Benedito Nelson são os coordenadores das atividades de nosso Grupo, nas diversas áreas abrangidas pelas práticas e estudos teóricos dos ensinamentos de Gurdjieff. 

Karate nos dias atuais

            Nosso Kyoshi Benedito Nelson dedicou a vida ao aprimoramento do corpo para o combate e do espírito do guerreiro, não hesitando em transmitir seus conhecimentos. A proposta de unificar o Karate em âmbito nacional objetivando a formação de professores qualificados e de atletas desta arte marcial, capazes de afigurar do pódios das competições nas quais ingressassem, se materializou na fundação da associação de academias Hien Karate Kyokai.
            Esta associação visava aprimorar as técnicas dos professores, assim como permitir um intercâmbio saudável entre os alunos, mantendo as tradições de nossos mestres antepassados, ensinando a etiqueta Budo e criando condições para o desenvolvimento desportivo.
            Após o falecimento do Kyoshi BNAS, em 1º de Agosto de 2013, coube a responsabilidade de assumir a liderança deste grandioso projeto, que tem como objetivo levar o Karate para o maior numero de praticantes que assim desejarem, ao Shihan (5º Dan/Grau) SiddiGobbi dos Santos.
            O ShihanSiddi é filho do Kyoshi Benedito Nelson e iniciou a prática do Karate aos 3 anos de idade, com seu pai, em 1975. Os exames de graduação que participou até obtenção da faixa laranja aconteceram com o Professor Juichi Sagara, que, professor do nosso Kyoshi BNAS. Ao atingir a faixa roxa, iniciou os treinamentos com o melhor aluno do Kyoshi nesta época, César Vallaperdi, adquirindo a faixa marrom.Nesta época, o Kyoshi não tinha possibilidade de ministrar aulas regulares durante a semana, só podendo aos sábados ministrar aulas aos faixas pretas.
            Aos 13 anos de idade o Shihan começou a ministrar aulas de karate, o que permanece fazendo até os dias atuais, tendo se graduado em Educação Física pela Universidade Gama Filho no ano de 1994 e pós-graduando pela Universidade Veiga de Almeida em Psicomotricidade no ano de 2001.
            O Shihan recebeu a graduação de faixa Preta (1º Dan) aos 16 anos, no anos de 1988, pela Federação de Karate do Estado do Rio de Janeiro (FKERJ). O 2º Dan foi recebido em 1993, pelo mesmo organismo organizativo, o 3º Dan em 19996 também pela FKRJ, o 4º Dan também foi recebido pela FKRJ, 2002.
            O 5º Dan foi recebido por três organizações distintas de Karate, no ano de 2010: a FKRJ, a Confederação Brasileira de Karate e a Shotokan Karate Intenational federation pelo mestre Kansho Kanazawa.
            Além da extensa experiência como professor, tendo graduado em sua carreira mais de 40 faixas pretas, o Shihan teve grande sucesso como atleta em campeonatos tendo recebido mais de 40 títulos em diversas competições. As principais elencamos aqui:

·                Campeão do 1o campeonato estadual de Karate juvenil 1987 - Kumite
·                Campeão do 1o campeonato estadual júnior - Kata e Kumite FKERJ - 1991
·                Diversos títulos estaduais e nacionais pela FKERJ -SKIF e CBK
·                Campeão pan-americano juvenil de KataSKIF - México 1989
·                Vice-campeão -pan-americano juvenil de KumiteSkif - México 1989
·                Participação do campeonato mundial México - SKIF -1991
·                Campeão Sul americano adulto por equipes  skiF - Mar del Plata - Argentina - 1993
·                Vice-campeão sul americano adulto de Kata  SKIF - Mar del Plata - Argentina - 1993


            Desta forma, com respeito aos ensinamentos tradicionais recebidos de seu pai, o Shihan se encontra em boas condições de continuar e divulgar o trabalho pelo engrandecimento do Karate iniciado por seu pai, tanto na parte de conduta do guerreiro como na formação de atletas nesta arte. 

Fabricação de espadas nos dias atuais

            Uma outra atividade que juntamente com o Karate e o Trabalho de Gurdjieff esteve presente em todo a história de vida do Kyoshi Benedito Nelson foi a fabricação das tradicionais espadas japonesas. Jovem ele se interessou por este tipo de armamento e por toda a tradição que estas lâmina feitas artesanalmente carregam.
            Após muitas pesquisas solitárias, conversando com famílias japonesas, estudos a partir de livros e relatos de espadeiros de séculos passados, o Kyoshi logrou fazer uma lâmina da maneira tradicional, com a metodologia e a técnica necessárias para garantir as características diferenciadas das lâminas usadas pelos Samurais.
            O Kurokaji Sukehiro, nome de espadeiro do Kyoshi BNAS,em sua vida fabricou espadas para a venda à colecionadores que tem especial interesse nesta obra de arte e para demais interessados na cultura japonesa e nas tradições samurais. O aluno Guilherme Freitas, acompanhou como aprendiz as técnicas de fabricação das espadas a partir do ano de 2001, tendo recebido a orientação para fabricar espadas em todas as suas fases de acabamento desde as mais rústicas as mais sutis e delicadas. Quanto à confecção das bainhas, parte fundamental para a montagem da espada completa, Kyoshi ensinou ativamente a seu aluno Francisco das Chagas Araujo.
            A tradição de fabricar as espadas japonesas não cessou com a morte física de Kurokaji Sukehiro. Os alunos nesta antiga tradição Guilherme Freitas e Francisco das Chagas Araújo, já perpetuam os ensinamentos recebidos do mestre. Deste modo, a estes dois discípulos foi dada a incumbência e responsabilidade de atuar para a continuidade desta antiga arte Samurai, como todo o zelo e responsabilidade com as tradições japonesas como foi a vontade de seu mestre espadeiro.


sexta-feira, 14 de março de 2014

MENTIR A SI MESMO


Em nosso Trabalho uma das piores situações interiores é enganar a si próprio e não querer ver e aceitar a mentira, para se satisfazer e continuar a dormir. Como nos enganamos? Primeiro é falar o que não faz como se fizesse. Por exemplo: A pessoa diz que quer  despertar e conhecer a si mesmo para uma evolução posterior e começa a fingir que está no Trabalho, chega a uma reunião, se comporta perfeitamente, senta-se para o Mokusô de maneira correta, coloca atenção nos fatos do momento e etc. Assim que termina a reunião volta a ser o que sempre foi, inicia o papo sobre futebol, cinema, serviço, amigos, diversão, saídas, etc. Estes são os que se enganam e o Trabalho é mais uma atividade na vida e não a vida em si.
Nós podemos fazer tudo o que queremos, contanto que não prejudique o próximo, só não devemos é nos enganar, fazer uma coisa pensando ser outra. O papo, o assunto que fazemos não interessa, mas o nível de nossa atenção não deve diminuir e devemos colocar os centros para funcionar no momento preciso. Digamos que temos que comprar uma pizza para o jantar:  saber sem dúvida o que comer, preparar o troco antes dela chegar, não duvidar quando a campainha toca, já deixar tudo preparado, e tudo isto na observação de si.
Se uma pessoa estiver sentindo o corpo e passa pela sala  percebendo algo desarrumado e não toma a iniciativa para arrumar, pode ter certeza que não está atenta a um nível bom de Trabalho. Como disse N. a pessoa vê a bolsa de outra pessoa aberta , mostra a uma terceira que vai lá e fecha a bolsa aberta. Quem viu tirou o corpo fora, foi inútil ter visto. Quem deixou a bolsa aberta estava distraído, quem tomou conhecimento e foi fechá-la agiu certo: viu, sentiu e agiu.
Na observação de si existem duas linhas de atenção: uma para nós mesmos e outra para uma situação exterior. Quando tomamos conhecimento dessas duas linhas, não devemos confundir achando que é apenas saber o que está se vendo, mas sim saber o que fazer com a situação em que está se vivendo, sempre para o nosso bem sem prejudicar o próximo. Ajudar sim,  sem se prejudicar também.
Certa pessoa acha que gosta de sua mãe e faz tudo o que ela não quer que faça: tem vícios, não a ajuda nos afazeres domésticos, é ríspido quando contrariado, não faz carinho algum quando está perto dela e etc. Uma pessoa desta está mentindo para si mesmo, ela não quer ver quem ela própria é. Quando a mãe ou o pai adoece, chora, fica preocupado, etc... Mas no íntimo ela sabe que não gosta dos seus pais, se tem algo é apenas apego, e em muitos casos medo de ficar sem alguém para ampará-lo nas situações difíceis.
Não podemos esquecer que é totalmente inútil perguntar a uma pessoa que dorme se ela gosta de fulano ou cicrano, ela afirmará e até brigará se alguém duvidar de seu sentimento. Nada mais ofende um pai ou um filho este tipo de pergunta:”Você ama seu pai?” Todos afirmarão que sim mesmo sem ter a mínima noção do que isto significa na vida humana. Houve uma pergunta numa de nossas reuniões que sintetiza este fato. A perguntou para B se gostava de sua filhinha, B respondeu que era a coisa mais amada por ela no mundo.Então A disse: o dinheiro é algo que negamos, mas gostamos muito, quanto mais recebemos e temos mais felizes ficamos, então porque vocês não tiveram mais filhos já que gostam tanto dessa filha? Os pais assustados disseram: “Deus me livre!” Aqui está claro que Amor não existe, pode se ter apego, consideração interna, posse, identificação, etc... mas Amor está longe de ser.
A mentira está presente em nós, por isso não devemos julgar A ou B como errado, mas sim a mentira que existe em nossas vidas. Temos que procurar conhecer o que sentimos e o que fazemos para o nosso auto-conhecimento. Nada deve ficar fora de uma observação imparcial do que sentimos, vemos e queremos. Se procurarmos estar perto da verdade é porque estamos no caminho do nosso salvador daquele que nos criou e portanto não procurar fechar os nossos olhos para o que existe em nossa vida.
Quanto mais perto da luz, mais perto da verdade e esta verdade não é falarmos o que pensamos ou agirmos como os corretos querendo corrigir o mundo. A verdade é se conhecer para poder ver o que temos de trevas em nosso interior. A verdade não é andar correto para os olhos dos homens,mas saber o que acontece com nós e com o que nos rodeia, para sabermos como caminhar para a luz de consciência de si.



segunda-feira, 10 de março de 2014

Amortecedores

 

Os amortecedores são aparelhos que não deixam os vagões do trem baterem uns contra os outros de forma violenta,porque assim podem danificar toda a estrutura do trem.
Nós também temos amortecedores em nossa vida. Todos nós fazemos esforço, exercícios para nos conhecer e adquirir um nível de consciência superior, mas entre os exercícios e esforços existem amortecedores que não deixam aquilo que vemos de forma suportável se transformar em choque pois poderíamos não resistir.
Digamos que num determinado momento uma pessoa acorde mais e fique nessa situação por uns instantes e passe a perceber o que ela é e o que se passa a seu redor, em seguida gradativamente começa a voltar ao seu normal: gesticular, a sua voz se tornar mecânica, etc... Isto não acontece de imediato pois os amortecedores não deixam. A pessoa não suportaria se fosse dormir imediatamente como antes pois se lembraria perfeitamente de sua condição de acordada. O mesmo acontece com os eus, uns vem, outros vão e entre um e outro existe os amortecedores que não deixam a pessoa perceber as mudanças. Num determinado momento está um eu que é querido da outra pesoa e em seguida vem o eu briguento, já não é mais a mesma pessoa, o corpo continua o mesmo, algumas lembranças também, mas não é a mesma pessoa. Na espera do outro eu querido, acontece que os amortecedores funcionam e nem uma pessoa nem outra percebem que um deles já se foi e a pessoa volta a ser como antes, tudo em poucos momentos.Os eus vem e vão, percebemos a mudança mas não o momento da troca entre eles.
A pessoa que está no Trabalho de Gurdjieff deve sempre estar preparado para aceitar essas mudanças e saber como manter uma observação imparcial nesses eus e depois conhecê-los bem , saber como interferir, não diretamente fingindo uma ação que não corresponda à realidade do momento.
Um determinado eu ou grupo de eus possui um comportamento e tonalidade de voz facilmente reconhecida por alguém do grupo que no momento utiliza dois: um que observa a si mesmo e o outro que espera essa mudança de eu da outra pessoa até que o indesejado vá embora. Assim funciona o trabalho sobre si em grupo. Ao observarmos a mudança de eu de um amigo devemos esperar o outro chegar para falarmos e voltar ao natural de equilíbrio. A pessoa que está com um eu indesejado deve não agir, esperar, observar seus próprios movimentos, sua voz, conversas interiores, posturas tipos de percepções limitadas, gostos, sensações, pulsação, etc... e não agir nem decidir nada, apenas observar tudo o que está acontecendo consigo e com o companheiro.
Nós sabemos que as opiniões e atitudes dentro de nosso ser vêm de várias  fontes (eus) e apenas devemos aceitar aqueles eus que se relacionam com o trabalho sobre si. Se as manifestações de um determinado grupo de eus, por exemplo: briguento, mister bar, o bom profissional, o bom diretor, o bom ator, o bom pai, a boa mãe, o amigão, etc... começam a se manifestar sem serem observados, eles se tornarão fortes, muito mais fortes do que os eus do trabalho e um dia assumirão o controle de tudo o que existe na vida da pessoa, mesmo que esta esteja no trabalho fazendo tudo externamente certo com sua falsa personalidade .   Mesmo quem estiver num grupo de Gurdjieff agindo corretamente e até dizendo: “Nunca vou parar!”, “Sempre quis estar aqui fazendo isso!”, “Sou do trabalho de Gurdjieff!”, etc...Tudo isso é uma falsa personalidade que fantasia o Trabalho de Gurdjieff. Dentro de si a pessoa pode ter como objetivo agradar a namorada ou mulher, família e etc ou se fortalecer para que os amigos passem a  respeitá-la e admirá-la. Mas se estivermos com amigos do Trabalho e estes estiverem atentos, perceberão quem é quem, isto é, quais são os eus que se manifestam numa determinado companheiro e caso ele não faça os exercícios de auto-observação, algo acontecerá: ou a pessoa passa a se observar ou se afastará execrando e maldizendo todos, inclusive o trabalho que antes adorava e era tudo em sua vida.
A parte externa de uma pessoa pode se manifestar com perfeição nos movimentos, trabalhos, etc... mas somente ela saberá o que realmente quer e valoriza. Um grupo de trabalho existe exatamente para diminuir os amortecedores e causar choque naqueles que estão fazendo um esforço sério sobre si mesmo. Aqueles que estão se enganando, conforme a intensidade do trabalho de grupo aumenta eles não agüentam, sairão do grupo na primeira oportunidade que tiverem, como: família, serviço, namorada, dinheiro ou até algumas novidades profissionais físicas ou psicológicas diferentes do Trabalho.

Os amortecedores são o bálsamo que levam a pessoa a dormir e pensar que está acordada ou pensar que está fazendo algo sobre si mesmo. Nesta benevolência, descansará na cama da vida num sono maravilhosos de suas próprias fantasias, achando-se o único certo podendo até encontrar alguém que concorde com ele, mas não será uma pessoa do Trabalho de Gurdjieff. Uma pessoa do Trabalho é acima de tudo, alguém que sabe o que quer, está pronta para sacrificar suas próprias fraquezas, como: preguiça, desleixo com objetos do grupo, pieguismos com amigos, desconfiança ou pior, esperar que as coisas melhorem para começar com a falsa idéia que retornará com mais disposição. Uma pessoa que retorna após um tempo de afastamento por um dos motivos citados acima voltará mais fraca, desturmada, estranha e até com vergonha de si mesma ou ficará com raiva e culpará o grupo pelas suas próprias fraquezas. Estes são os amortecedores que impedem as pessoas de verem o que realmente querem ou são. As pessoas são o que fazem e não o que falam e fazer não é uma vez ou duas, são anos de Trabalho e abnegação na direção daquilo que querem. . Quanto mais esforço para acordar, mais consciência e mais diferente se tornarão do que antes eram, sempre para melhor, nunca para pior do que quando iniciou seus esforços. Nada os abalará nesta meta. São os verdadeiros guerreiros do século XX ! Seu escudo é sua atenção, sua lança é a sua verdade e seu corpo, a sua imortalidade.

A Psicologia de Gurdjieff - Palestra em Belém-PA - 15.03.2014