Nos Trabalhos de Gurdjieff, se existe algo proibido de
se manifestar, são as emoções negativas como: ódio, rancor, raiva, mágoa.
Porque será que esse tipo de emoção é tão nefasto para nossa evolução? Sabemos
da dificuldade de nos mantermos atentos durante um dia e esses esforços que são
acumulativos, nos trarão a Consciência de
si gradativamente. Com o passar do tempo, uma pessoa que realmente faz
exercícios sobre si mesma, aprende a se observar e entender o processo desse
tipo de manifestações.
Uma pessoa que chega a este ponto está dormindo neste
exato momento, sem nenhuma possibilidade de acordar e se observar.
Em nosso Trabalho, uma pessoa que se descontrola
coloca a perder meses e até anos de esforço sobre si mesmo; Este tipo de emoção é como a explosão de uma bomba,
onde põe a perder uma grande parte de um esforço e até perder tudo o que foi
feito durante anos de vida no Trabalho de Gurdjieff.
Tem também um outro tipo de explosão que chamo de
implosão. Uma pessoa finge que se controla exteriormente e faz cara social, mas
internamente todos os sentimentos se processam com fúria e na primeira
oportunidade longe do grupo, solta tudo o que tem dentro de si e dificilmente
tem força ou consciência para retornar a trabalhar sobre si mesmo. Tudo começa
como terminou, com uma pequena desculpa para faltar as reuniões, até que chega
num ponto em que a pessoa some e não volta mais. Por este motivo é importante ter atenção
quando alguém se afasta do grupo por algum motivo de serviço ou
estudo, que são as duas únicas coisas que não podemos modificar de acordo
com o grau de Trabalho de cada um.
Nesses dois casos há uma necessidade de se manter em
contato periódico, não deixando se passarem mais de 15 dias e de alguma forma fortalecer
o contato ao pegar exercícios, treinar a primeira obrigatória, telefonar
para falar com o orientador do grupo, pagar a mensalidade em dia. Este compromisso é
uma força que não enfraquece com o tempo. Assim como uma pessoa que faz pouco
exercício, mas não falta a nenhuma reunião está na mesma condição, não se
enfraquece interiormente. Uma reunião não começa com as pessoas se vendo, mas
dentro de si mesmo no momento de decisão de não faltar e criar uma condição de
presença.
Temos os exercícios de observação de si e a observação
propriamente dita, que em determinado momento de crise (isto é, uma forte
emoção ou situação inesperada) serve para vermos em que grau estamos e o que
devemos fazer. Para isto, não é necessário que haja momentos críticos, pois
estes momentos sempre aparecem bem disfarçados, da seguinte maneira: quando
estamos fazendo algum trabalho que gostamos (identificação);quando alguma
situação boa, engraçada, filme, está acontecendo (distração). Estes momentos
devem ser bem estudados com o máximo de atenção.
É certo pensar que as emoções negativas não pertencem
ao homem, mas isto não significa que ele não as possui. É algo pernicioso que
adquirimos desde a infância e até antes do nascimento e o trazemos como herança
de nossa mecanicidade.
Na maioria das manifestações interiores de emoções
negativas ou não, somente devemos observá-las , sem fazer nada, se quisermos
ter um trabalho sobre elas devemos, não deixá-las se manifestar , pois sentir é
algo que não temos como evitar, pois o centro intelectual é muitas vezes de
menor vibração do que o Centro emocional, portanto é mais lento e de uma outra
natureza.
Ao nos depararmos com determinados tipos de emoções o
que temos que fazer é trabalhá-los da seguinte maneira:
- Primeiro: relaxando o rosto, ombros, abdome e procurar manter a sensação do corpo.
- Segundo: não aceitar nenhuma compreensão ou ideia que vier, apenas deixá-la como algo que vai mudar.
- Terceiro: ser educado nas ações e na voz, não fugir da situação e mesmo com toda “razão” do momento, aceitar a derrota. Se for o caso, até se humilhar não reagindo. O que vem com este processo é inigualável. No momento não somente as emoções não desejáveis que estão presentes é que devem ser observadas, mas tudo .
Quando colocamos uma maior atenção numa determinada
emoção, não devemos esquecer que mesmo que estivermos parados num lugar sem
fazer nada, estaremos sentindo algo, com mais ou menos intensidade. Nós, como
um todo, somos um ser tríplice: Cabeça (centro intelectual); peito (centro
emocional) e tronco (Centro motor e instintivo). Todos eles com a nossa atenção
ou não, estão funcionando, o que pode não estar funcionando é nossa atenção,
que é a nossa vida real.
Os centros são partes de nosso ser, da máquina que faz
a ligação entre o mundo exterior e o interior. Agora a atenção é nosso ser que
vem de longe a vai para longe, ficando no mesmo lugar, sendo que esta distância
é a diferença do nível de consciência atual ou aquele que queremos ter e ser.
Ao aceitarmos a nossa atual condição de compreensão, estaremos aceitando a
estagnação de nossa evolução. Quando acharmos que sabemos, sentimos, etc e
estivermos satisfeitos com isto, acabou. Não mudaremos para melhor, pois a
nossa evolução não depende de fingir que queremos mudar, mas mudando a forma de
nos observarmos como um todo. Por isso que ao nos depararmos com as condições
adversas de nossos sentimentos e pensamentos devemos lembrar o que fomos no
passado e o que podemos ser no futuro; não estou dizendo nas posturas externas
mas no nível de compreensão e os tipos de gostos, (o que hoje gostamos,
pessoas, comida...) através de uma observação sistemática muda tanto que depois
de uns tempos não lembramos como éramos, nem como fomos.
Dentro de nós existem vários Eus cada um deles com um
sentimento e compreensão e as pessoas fora de nós, são exatamente como os Eus
cada pessoa é um ser que deve ser observado, junto com os Eus que ele nos traz.
Ao nos depararmos com alguém brincalhão, rimos; com alguém sisudo, ficamos
sérios, mas se observarmos imparcialmente, isto não acontece, continuaremos
dentro do equilíbrio do que somos.
Temos que nos observar dentro de nós mesmos, no mesmo
tempo que observamos o nosso redor.
Dentro de um grupo, onde todos se propõem a acordar,
uma pessoa que está nesta condição, tem que aceitar se duas ou mais pessoas do
grupo tem a mesma opinião sobre uma delas, é por este motivo que um grupo
existe. Uma pessoa sozinha, com um tipo de atitude de sono, tem que aceitar a
opinião dos companheiros. Vamos dizer que o grupo está vendo uma mecanicidade
de um deles, e este não queira aceitar. Significa que não quer acordar, aquele
defeito é o que o faz dormir. Cada um de um grupo participa com a sua cota de
defeitos e também de atenção, pois é muito mais fácil perceber isto nos outros,
do que em nós mesmos. O Orientador tem o
dever de provocar situações, até desagradáveis, pois quanto mais isto acontece,
melhor podemos trabalhar com as pessoas que querem acordar, por isso o
descontrole não é permitido, pois o Grupo de Trabalho de Gurdjieff não é uma
reunião social, onde uma pessoa tem que agradar a outra e esconder o seu estado
de sono, como acontece normalmente com as pessoas comuns, nas religiões e
outros grupos que não se importam com a observação de si.
Em muitos casos devemos falar, mostrar o que um do
grupo está errando sem perceber, e em outro caso temos que ficar em silêncio e
nos observar e perguntar porque aquilo nos incomoda e fazermos a seguinte
pergunta: “será que também sou assim?”, “Porque?”, “Como posso ver isto em
mim?”, “Porque não aceito isto?” e etc.
Outro tipo de sentimento é o da acomodação, falta de
interesse em ver e fazer. O estudante de si deve a todo momento em que estiver
no grupo, procurar ver no que está falhando, e se for sincero consigo mesmo,
verá que sempre haverá algo para ser feito e que ele não está percebendo. Por
isso num grupo de trabalho um participante quase nunca está certo, pois se
estivesse certo, estaria acordado dirigindo o grupo, o que não acontece.
Cada um no grupo deve saber o seu lugar em situações
diferentes, pois nada é fixo e é igual e muitas coisas devem ser feitas
automaticamente para se poder ter atenção mais ampla e aberta.
A evolução só é possível para aquele que trabalha
sobre si mesmo e quer isto, fazendo assim exercícios de se expor em tudo
o que o faz dormir : relacionamento amoroso, corpo, dinheiro, preguiça, mágoa,
identificação. O verdadeiro guerreiro, o samurai que segue o DOKO-DO não quer
ser aceito, não quer que tenham pena dele, ele se expõe com honra, se observa
com atenção e evolui espiritualmente.
(20
de Agosto de 2003)
Nenhum comentário:
Postar um comentário