O Trabalho de Gurdjieff possui 3 linhas iniciais:
A primeira linha é a do Egoísmo onde a pessoa tem que
trabalhar sobre si mesma. Todo seu esforço e atenção devem ser dirigidos na
observação de si, para que ele venha a conhecer como funciona sua máquina e
saber das possibilidades e capacidades que enganosamente pensa que possui. Para
isto, há reuniões semanais com exercícios psicológicos práticos, junto com
depoimentos, como também exercício de movimentos em grupo. Tudo isto para um
trabalho sobre si mesmo dentro do conhecimento individual que tem como base as
perguntas: “como estou?”; “o que consigo fazer?”; “como faço?”. Nesta situação,
a pessoa que está praticando os trabalhos de Gurdjieff tem a possibilidade de
estar (ao menos tentando) 16 horas treinando diariamente.
Uma vez por mês há uma reunião geral para os trabalhos
coletivos e um treinamento na segunda linha, que é ajudar o grupo como um corpo
comum. Digamos que na 1ª Linha trabalhamos para conhecer os centros e suas
conexões. Na 2ª Linha, um companheiro é o Centro Motor, por estar capinando ou
fazendo um trabalho manual qualquer. O outro é o Centro Intelectual, pois sabe
o que tem que fazer; um terceiro é o Centro Emocional. Neste temos que colocar
um pouco mais de atenção.
Podemos dizer que um amigo está parado e outros trabalhando
muito e suando, cansados. Ao olhar para aquele que está parado nos sentimos mal
e em nossa cabeça pulsa um questionamento: “por que ele está parado?”; “por que
ele está enrolando tanto?”; “por que ele está errando?”. As nossas emoções
começam a ferver. Neste momento se inicia um trabalho sobre a observação e a
não manifestação das emoções negativas.
O Trabalho de grupo não se inicia quando a pessoa já
está na reunião, mas sim no momento que decide ir. Se a pessoa não tiver
inicialmente um pequeno desejo, não irá, pois qualquer obstáculo será uma boa
desculpa para não trabalhar sobre si mesmo dentro de um esforço de no mínimo 24
horas, onde tudo o que é feito com o grupo não é para um lucro imediato, sendo
assim fora do contexto da vida comum. Neste esforço deixamos o mundo com seus
afazeres e iniciamos algo que não é gostoso nem prazeroso, mas algo que
almejamos conseguir ao longo do tempo.
A 3ª Linha é um trabalho de coletividade com o
objetivo de se fazer algo para todos, não somente para o grupo em si. Isso
significa que já conhecemos em parte como nós funcionamos na 1ª Linha e com os
outros na 2ª Linha, conseguindo então pôr em prática a 3ª Linha. Num nível
inicial, um grupo que já tem um treinamento individual, resolve comprar mantimentos
para as refeições. Quando estiverem pondo em prática isto, deveriam já estar
fazendo exercícios de auto-observação até o momento de comer. Não se deve agir
como se fosse um jantar comum de um mutirão, pois a nossa capacidade está sendo
testada por nós mesmos: o que fazer e como fazer. Não há um responsável, mas
todos são responsáveis. Isto é um esforço de grupo onde sua capacidade como um
todo é facilmente percebida. Quanto mais capaz um grupo, mais é capaz de fazer
e mais evoluído é em relação a outro grupo que quase nada consegue fazer.
Quem não decide num trabalho de grupo, deve estar em
condição de obedecer para a execução do que é proposto da melhor forma
possível. À todo momento, os participantes não devem se esquecer porquê estão
aqui nesse Trabalho. Aqui não existe nada que não seja para conhecer a si mesmo
e tentar estar presente e acordado. Para isto não devemos agir normalmente, a
atenção que é dirigida sobre nós mesmos e sobre o outro deve ser sempre aguçada
e com desprendimento. Não estamos aqui para fazermos o que queremos, mas o que
deve ser feito da melhor forma possível, sempre com a lembrança de si.
Não deve existir situação de individualismo num
trabalho de grupo, o que um faz todos serem responsáveis e cada um é um centro
para o funcionamento equilibrado de toda a reunião. Não existe alguém mais
importante. Se um tem o comando de uma simples lavagem de louça, os que
obedecem tem a mesma utilidade e toda contestação num trabalho deste significa
distração. Num trabalho coletivo a consideração externa é o principal objetivo
e por isso não devemos esperar que nosso companheiro entenda o ritmo do
trabalho. Nós é que devemos saber obedecer, como também mandar.
O ideal é cada um saber o que fazer ao iniciar os
trabalhos pois tudo deve ser feito como um único programa. Se o trabalho se
inicia às 6 da manhã, devemos estar prontos para fazer o que se deve e na
humildade consigo mesmo, saber antes o que se deve fazer até o final e não
perder esse objetivo. E isto com atenção em si mesmo. O nosso corpo físico, com
todas as suas funções está trabalhando sem a necessidade de uma atenção. Esta
interferência que fazemos em nosso corpo é para um armazenamento de energia e
toda interferência externa que chegar, ou de dentro de nós deve ser evitada a
todo custo.
Num trabalho de grupo existem os responsáveis por
todos. Logo abaixo do dirigente vem outras pessoas, então quem não sabe o que
fazer, deve perguntar a quem sabe. Ninguém trabalha para alguém, e sim para si
mesmo pois tanto dentro do Trabalho de Gurdjieff como fora dele, há
acontecimentos totalmente fora de controle. Para isto devemos a todo custo não
deixar acontecer nada por acaso, fora daquilo que estamos fazendo. Desde o
almoço até limpar o latão de lixo, devemos trazer momentos únicos de
manifestações de leis superiores, se não estivermos com vozes interiores.
A pessoa é o que faz e não o que pensa que pode fazer.
Um esforço para se adquirir a evolução do ser é um trabalho árduo e se ficarmos
nos reunindo somente para ouvir e falar, poderemos até nos tornar grandes oradores
ou pessoas cheias de ideias, mas nunca alcançar consciência e equilíbrio. A
atividade se manifesta no que fazemos, tanto interiormente como exteriormente e
um não é desligado do outro. Uma pessoa pode ir a uma igreja e rezar, dar
esmolas, ser caridoso e não estar fazendo absolutamente nada para si mesmo. Se
é um egoísta, leviano, continuará sendo o mesmo, nada em si mudará durante os
anos; se por acaso é um trabalhador correto, honesto, continuará sendo o mesmo
até a hora da morte. Para si mesmo não fez nada. Pode ter feito apenas
materialmente, para sua família.
Aqui nos Trabalhos de Gurdjieff, nós não estamos
satisfeitos com o que somos, queremos mudar, ser outro tipo de homem, queremos
ser equilibrados e ter consciência para sermos donos do nosso destino. Sabemos
que nada podemos fazer da maneira em que somos. Temos que mudar o nosso nível
de consciência para sermos outro homem ou outra mulher. Devemos ser Guerreiros,
para alcançar aquilo que o homem foi destinado a ser: filho de Deus.
(29/11/2000)
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