quarta-feira, 27 de novembro de 2013

RETROSPECTO









Ao exercitarmos a lembrança do que se passou no dia, trazemos à cabeça fatos que durante o dia desenvolvemos nossa atenção e observação de si. Estes momentos de recordação unem o passado ao presente e passamos a ver e até sentir fatos decorrentes da nossa atenção e também momentos de distrações que atingiram nossas emoções.
Paralelamente a esses exercícios, fazemos a programação do que faremos no dia seguinte. Se possível até a roupa que vamos vestir, e as pessoas que falaremos e os lugares que teremos que passar, as coisas que vamos ver nas paisagens. Se notarmos, estaremos entre dois fatores; um que se passou e um que vai se dar. Quando o fato programado acontece, há uma união e um fortalecimento de alguma coisa dentro de nós e passamos a ter uma lembrança do que foi programado como também do que estamos fazendo. Neste momento, cria-se um elo interior entre os fatos externos e os internos e algumas dessas coisas acontecem com possibilidades de compreensão e de existência dentro de um outro tempo. Lembramos o que programamos então nos vemos fazendo o assunto programado. Há nisto uma dupla lembrança e uma ligação entre o passado e o momento, assim como os fatos do futuro. O EU observador passa a existir fora desses fatores, como mero espectador e os fatos passam a ser e ter uma vida própria, independente de todos estes fatores.
Até o dia em que todos os fatores executados forem vistos antes de serem e acontecerem e os fatos independentes do controle interior como as pessoas que não falamos, pessoas que aparecerão fora do previsto da programação, passam a ser um fator de recordação após o fato ocorrido, então a observação dessas pessoas pode, de uma maneira totalmente alheia aos fatos programados, participar como simples acontecimento novo. Com outras possibilidades de observação de uma nova linha de conduta e até de divisões, sem identificação e com dados ligados aos já programados e até os que serão programados, ligados, sem contudo ter nada de aparente que dentro de uma razão haja que ter ou de existir. Isto é, os fatos novos que aparecem tem uma ligação com a nossa vida, não superficialmente mas profundamente, nos mostrando algo que está para acontecer  ou ligado a algo que já se passou.
Percebi isto em pessoas, animais, fatos materiais que ocorrem, como algo que cai, ou um assunto que vem de fatos que ocorreram com outras pessoas e que estão ligados aos assuntos que estamos estudando ou praticando e que aparentemente não há nenhuma ligação. Se for pessoa, pode nem saber da existência da outra e nem ter fatos ligados. Tudo isto só pode ser percebido através de uma atenção sem intenção de nada, apenas uma atenção a todos os fatos que decorrem no dia a dia. Não pára aí, as ligações de destino estão ligadas até em posições corporais e hábitos, que aparentemente nada tem em comum. Por isso o estudante que quer se desenvolver neste sentido tem que por a atenção em tudo o que existe nele e fora dele, simultaneamente e começar a observar todos os hábitos tanto dele como do outros, sem querer mudá-los inicialmente e quando começar a perceber o que resultam certos hábitos, conserva-los se não forem prejudiciais a saúde ou a sua própria mecanicidade, ou conserva-los se forem úteis para a sua vida.
Na Bíblia diz : "Não julgues para não ser julgado" . É uma lei, pois para continuar a observar todos estes fatos, não devemos mostrar aos outros nada do que se estuda, somente se a pessoa for companheira de estudo e quer realmente fazer uma auto- observação. As pessoas que não querem se observar e estão satisfeitas com o que são, mesmo que falem que querem mudar, não é verdade. Somente quer mudar quem pratica a observação de si e comenta e fala em reuniões os exercícios observados. Ao se fazer um exercício sem comentá-lo em grupo de estudo, é uma desobrigação interior de prosseguir. Quer dizer que a pessoa de certa forma quer ficar oculta com sua mecanicidade em seu sono. A prática da obediência não é subserviência, é humildade e respeito e este fato deve ser ligado ao interesse mútuo de se desenvolver na observação. A pessoa que obedece exige e tem direito de querer a atitude de quem ela obedece. E esta obediência também em certos momentos inverte e aquele que obedece deve ser respeitado e também obedecido quando falar e agir dentro do esforço do trabalho como companheiros na jornada da evolução em união. Obedecer é fazer os exercícios que se propõe.
Os exercícios inicialmente são uma sugestão e a medida que o interesse aumenta passam a ser uma ordem, de acordo com a valorização daquele que os recebe. Qualquer pessoa recebe os exercícios como algo de bom, mas aqueles Eus que estão presentes neste momento podem não ser os Eus do Trabalho ( a pessoa pode nem ter Eus do trabalho ) então, o exercício passado é somente útil para que possa observar os acontecimentos e o valor de sua própria intenção em passá-los, pois quem passa um exercício mesmo que o tenha feito no passado, deve fazê-lo no presente, para poder acompanhar o momento dos companheiros que se esforçam para se conhecer. Todos os conhecimentos são lineares no caminho da evolução, significando que vai a frente, quanto mais sabemos através de livros, histórias, contos etc. Sempre a personalidade vai a frente. Para a essência, o seu subir tem que ser através da prática e antes de praticar temos que saber como funciona a nossa máquina. Cada exercício é uma prática, a cada momento que o fazemos, algo está sendo armazenado, como um fato real, não fantasioso e nem teórico. E mesmo que erremos os exercícios, não podemos considerá-los como um erro e sim como uma tentativa para o auto-conhecimento e com o tempo ser usado na vida. Além da energia acumulada durante os esforços sobre si mesmo.
A mudança só se concretiza com o esforço nesta direção e acima de tudo a sinceridade consigo mesmo em não querer se enganar, achando que já possui algo confiável dentro de si. Tudo deve ser ponto de observação, tanto o que gostamos em nós como o que não gostamos.
(2000)

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