sexta-feira, 14 de março de 2014

MENTIR A SI MESMO


Em nosso Trabalho uma das piores situações interiores é enganar a si próprio e não querer ver e aceitar a mentira, para se satisfazer e continuar a dormir. Como nos enganamos? Primeiro é falar o que não faz como se fizesse. Por exemplo: A pessoa diz que quer  despertar e conhecer a si mesmo para uma evolução posterior e começa a fingir que está no Trabalho, chega a uma reunião, se comporta perfeitamente, senta-se para o Mokusô de maneira correta, coloca atenção nos fatos do momento e etc. Assim que termina a reunião volta a ser o que sempre foi, inicia o papo sobre futebol, cinema, serviço, amigos, diversão, saídas, etc. Estes são os que se enganam e o Trabalho é mais uma atividade na vida e não a vida em si.
Nós podemos fazer tudo o que queremos, contanto que não prejudique o próximo, só não devemos é nos enganar, fazer uma coisa pensando ser outra. O papo, o assunto que fazemos não interessa, mas o nível de nossa atenção não deve diminuir e devemos colocar os centros para funcionar no momento preciso. Digamos que temos que comprar uma pizza para o jantar:  saber sem dúvida o que comer, preparar o troco antes dela chegar, não duvidar quando a campainha toca, já deixar tudo preparado, e tudo isto na observação de si.
Se uma pessoa estiver sentindo o corpo e passa pela sala  percebendo algo desarrumado e não toma a iniciativa para arrumar, pode ter certeza que não está atenta a um nível bom de Trabalho. Como disse N. a pessoa vê a bolsa de outra pessoa aberta , mostra a uma terceira que vai lá e fecha a bolsa aberta. Quem viu tirou o corpo fora, foi inútil ter visto. Quem deixou a bolsa aberta estava distraído, quem tomou conhecimento e foi fechá-la agiu certo: viu, sentiu e agiu.
Na observação de si existem duas linhas de atenção: uma para nós mesmos e outra para uma situação exterior. Quando tomamos conhecimento dessas duas linhas, não devemos confundir achando que é apenas saber o que está se vendo, mas sim saber o que fazer com a situação em que está se vivendo, sempre para o nosso bem sem prejudicar o próximo. Ajudar sim,  sem se prejudicar também.
Certa pessoa acha que gosta de sua mãe e faz tudo o que ela não quer que faça: tem vícios, não a ajuda nos afazeres domésticos, é ríspido quando contrariado, não faz carinho algum quando está perto dela e etc. Uma pessoa desta está mentindo para si mesmo, ela não quer ver quem ela própria é. Quando a mãe ou o pai adoece, chora, fica preocupado, etc... Mas no íntimo ela sabe que não gosta dos seus pais, se tem algo é apenas apego, e em muitos casos medo de ficar sem alguém para ampará-lo nas situações difíceis.
Não podemos esquecer que é totalmente inútil perguntar a uma pessoa que dorme se ela gosta de fulano ou cicrano, ela afirmará e até brigará se alguém duvidar de seu sentimento. Nada mais ofende um pai ou um filho este tipo de pergunta:”Você ama seu pai?” Todos afirmarão que sim mesmo sem ter a mínima noção do que isto significa na vida humana. Houve uma pergunta numa de nossas reuniões que sintetiza este fato. A perguntou para B se gostava de sua filhinha, B respondeu que era a coisa mais amada por ela no mundo.Então A disse: o dinheiro é algo que negamos, mas gostamos muito, quanto mais recebemos e temos mais felizes ficamos, então porque vocês não tiveram mais filhos já que gostam tanto dessa filha? Os pais assustados disseram: “Deus me livre!” Aqui está claro que Amor não existe, pode se ter apego, consideração interna, posse, identificação, etc... mas Amor está longe de ser.
A mentira está presente em nós, por isso não devemos julgar A ou B como errado, mas sim a mentira que existe em nossas vidas. Temos que procurar conhecer o que sentimos e o que fazemos para o nosso auto-conhecimento. Nada deve ficar fora de uma observação imparcial do que sentimos, vemos e queremos. Se procurarmos estar perto da verdade é porque estamos no caminho do nosso salvador daquele que nos criou e portanto não procurar fechar os nossos olhos para o que existe em nossa vida.
Quanto mais perto da luz, mais perto da verdade e esta verdade não é falarmos o que pensamos ou agirmos como os corretos querendo corrigir o mundo. A verdade é se conhecer para poder ver o que temos de trevas em nosso interior. A verdade não é andar correto para os olhos dos homens,mas saber o que acontece com nós e com o que nos rodeia, para sabermos como caminhar para a luz de consciência de si.



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