quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

GRAUS DE ATENÇÃO





Além dos graus de consciência já conhecidos, falaremos sobre os graus de atenção no estado de vigília e consciência de si. Consideramos que o estado de vigília também é o estado de sono e nesta situação, tudo acontece com a pessoa. A pessoa não é ela mesma e sim a vontade de vários eus acidentais do momento. No caso de um praticante do Trabalho de Gurdjieff, este fica por alguns momentos a mais numa situação de lembrança de si. Vamos classificar esses momentos pelos graus de atenção:
  • Primeiro Grau: A pessoa lembra de si própria, mas ainda não está se observando plenamente. Ao começar a relaxar o rosto e soltar os ombros, passa a sentir seu próprio corpo gradativamente. Este é o primeiro passo para poder acordar, então poderemos chamar de primeiro grau.
  • Segundo grau: Se o seu esforço continuar, o praticante passará a também perceber os acontecimentos exteriores e com isto verá muitos detalhes que uma pessoa distraída não percebe como: movimentos, sons e situações diversas.
  • Terceiro grau: A partir daí, já com as bases do primeiro e segundo graus, seus próprios movimentos são controlados assim como sua voz e internamente, as vozes interiores não interferem em sua atitude. Após um tempo nesta situação, que varia de pessoa para pessoa, o som interior aparecerá e tudo o que estiver fazendo não fará o som interior desaparecer. (Tenho uma observação a ser feita até esse ponto: a pessoa pode, ao lembrar de si, passar a ouvir o som interior primeiro, antes de relaxar o corpo, pois sabemos que sentimos mais o corpo ou contraindo ou relaxando os músculos propositalmente. Numa situação dessa, qualquer acontecimento externo não modificará o seu interior emocionalmente.)
 Quando algo acontece fora que mexe com o seu sentimento, tudo isso pode desabar e voltar a estaca zero, isto é, ao grau de esquecimento de si e então tudo que a pessoa fizer ou falar é fruto de seu sono. A luta para conservar o grau de atenção elevado é através dos movimentos, sensação do corpo e da não aceitação de um ponto de apoio para o sono, isto é, sua própria opinião ou seu ponto de vista, a razão que acha que tem.

  • Quarto grau: É o completo abandono de toda a personalidade existente, como se a pessoa não existisse e fosse apenas uma vaga lembrança de todos os seus gostos e desejos, nada tem a defender ou afirmar, apenas a sua determinação em não perder esse tênue momento de consciência. 
Num grupo existem várias pessoas dormindo ou não, que provocam situações de luta interior quando alguém diz que não gosta de algo ou que não quer assim. Não é ela própria que está dizendo, são os eus do sono que estão se manifestando. Isto não impede de no afã do Trabalho, alguém que tem mais visão procurar melhorar o que está sendo feito. Qualquer justificativa ou desculpa seja ela certa ou não, é uma defesa da personalidade. Cada um de nós tem pontos de mais sono: uns tem a família, namorada, amigos. Outros roupas, cabelo...E ainda os que tem como maior ponto de sono suas ideias a respeito de esporte, lazer, política e etc. Nós devemos conhecer detalhadamente quais são esses pontos em nós mesmos para quando eles aparecerem tomarmos cuidado para não dormir.  Podemos dizer que este estado é a consciência de si.

No processo para o equilíbrio do o homem, um prato da balança são os acontecimentos internos, o outro prato da balança são os acontecimentos externos e o equilíbrio, o Fiel da balança, é a sua consciência. Todo esse contexto de equilíbrio pode desabar se a pessoa não ficar em estado de alerta constante por esse motivo, devemos tomar muito cuidado com os pequenos detalhes que nos tiram o equilíbrio tanto internamente como externamente. Como a identificação é algo que está dentro de nós mas não se manifesta sempre, ela apenas se apresenta quando o botão da provocação é apertado. Por esse motivo devemos saber quais são os pontos de fraqueza que temos no nosso interior que são conhecidos como: distração e esquecimento, que nada mais são do que SONO.
Quando falamos da consideração externa, nada mais estamos querendo dizer do que uma atenção dirigida às pessoas que tem contato conosco em várias situações de Trabalho ou não e pode passar despercebido, por exemplo: uma pessoa nos entrega algo para guardarmos e distraidamente passamos essa responsabilidade à outra pessoa. Isso é falta de consideração. Pois quanto maior é a distância daquilo que queremos, mais pessoas se antepõem ao nosso objetivo.
 É fácil pedir a alguém algo que devemos fazer, mas nem sempre há a necessidade de passarmos nossas responsabilidades para outras pessoas. A divisão de tarefas num trabalho é algo que requer uma união de atenções com apenas um objetivo: acordar. E isso pode ser feito desde a arrumação de uma casa até a construção da mesma. O desconhecimento de suas próprias responsabilidades também é sono. A pessoa pode estar fantasiando a si própria que está atenta e no entanto não está nem vendo um pó em cima de uma mesa ou um papel no chão pois a responsabilidade é de quem vê. Se estivermos perto de alguém que não consegue enxergar suas próprias fraquezas, isto é, seu sono, ela deve aceitar com humildade que o grupo existe exatamente para mostrar aquilo que nos faz dormir e ao ser chamado à atenção para algo e se manifestar algum tipo de emoção negativa, isto comprova que a pessoa se abandonou e não está fazendo esforço suficiente para acordar.       
Quando acontece algo interior contrariando os fatos exteriores, aquele que quer acordar deve no silêncio obedecer, seja lá quem for, contanto que tenha o mesmo objetivo seu, de acordar. Pois muitos acontecimentos do sono só percebemos depois que este passa, e chegam os outros eus do Trabalho. Quando num grupo alguém começa a se justificar defendendo suas próprias opiniões e fatos, ele não está vendo o que os outros estão vendo. Numa situação dessa, devemos procurar entender sem nos defender e fazer o que é pedido mesmo não querendo, nem entendendo aquilo que deve ser feito ou corrigindo o que errou.
Num grupo de TG não se faz o que quer e sim o que deve ser feito. A opinião não é bem vinda pois é uma parte que nem sempre pode ser a correta, portanto deve haver uma diretriz onde todos possam, entendendo ou não, seguir. A pessoa que se acha capaz de fazer somente o que entende, acha que está acordada e que sua cabeça é capaz de saber tudo o que se passa, comete um dos maiores erros daqueles que acham que por ver e ouvir têm o suficiente para entender. 
A compreensão não é na razão do momento, e sim nos fatos que acontecem e aconteceram. Vamos dizer que uma pessoa peça algo para outra e essa outra esqueça e comece a justificar o esquecimento ao mesmo tempo que a que pediu começa a se queixar. As duas estão dormindo pois o acordar não é ter a razão e sim a consciência do que está acontecendo. Nós devemos mostrar pra quem quer ver o erro que a faz dormir sem se queixar do que está acontecendo ou do que aconteceu.
Uma pessoa do Trabalho deve ter especial atenção em seus sentimentos em relação aos companheiros. Quanto mais incomodada uma pessoa fica perto da outra, mais dormindo está. Como todos tem o mesmo objetivo de acordar, não há diferença entre A ou B e ao estarmos juntos, a tendência para ficarmos perto de alguém ou longe é uma marca de que o sono é profundo e a observação não está sendo feita. Toda preferência é identificação. Claro que para executar algum tipo de trabalho, naturalmente queremos a melhor pessoa para não errarmos ou para nos ajudar. Isto não é sono, é inteligência que se manifesta nos resultados daquilo que está sendo feito. O mesmo acontece quando queremos aprender algo: devemos procurar a pessoa que sabe, isto também não é preferência. 
Vamos dizer que temos que viajar com alguém por um longo período. A escolha se for possível é para aquelas que estejam no Trabalho, mas não tendo essa possibilidade, qualquer pessoa que estiver perto da gente é tema que deve ser observado nas reações que possam nos causar. Sendo do Trabalho, são momentos de observação mútua entre si.  A teimosia demonstra também um grau baixo de observação pois nada mais é do que forçar uma pessoa a acatar a opinião de outra quando ela não tem a compreensão para isto que está acontecendo. A repetição contínua sem intervalo é teimosia, diferente da persistência pois esta é o esforço que fazemos para conseguir algum objetivo.
Qualquer sentimento de insatisfação perto de alguém é algo que devemos observar com muita atenção pois tem alguma relação com algo que temos no nosso interior em relação à outra pessoa e que deve ser mudado, pois a fantasia pode criar fatos que parecem muito reais em relação a aquilo que imaginamos entender. Em tudo isso, vemos o grau que possuímos de acordo com nossa própria atitude .Quando estivermos no quarto grau, podemos ter certeza disso ao não sermos atingidos pelos acontecimentos externos que não conseguem nos influenciar emocionalmente ao mesmo tempo em que percebemos os acontecimentos em relação a nossa pessoa.
Em qualquer situação, de intensidade de Trabalho ou não, devemos saber qual é o nosso grau naquele momento, sem dúvida, pois esta é a base do aumento da consciência. Ao segurar uma espada com a mão ferrenha, devemos estar prontos para o embate final tirando todas as nossas fraquezas que acumulamos durante anos e que agora temos que vencer. Para vencê-las é preciso estar atento e uma forma de estar atento é tendo responsabilidade, não esquecê-las e não ter sentimentos negativos com ninguém, principalmente do grupo, pois se isto acontecer, a pessoa está dormindo.
Um guerreiro de verdade não é atingido com facilidade e não esquece das suas responsabilidades, pois a maior que tem é ser imortal.
(17 de Setembro de 2003)

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