sexta-feira, 11 de outubro de 2013

LINHAS DE TRABALHO



O Trabalho de Gurdjieff possui 3 linhas iniciais:
A primeira linha é a do Egoísmo onde a pessoa tem que trabalhar sobre si mesma. Todo seu esforço e atenção devem ser dirigidos na observação de si, para que ele venha a conhecer como funciona sua máquina e saber das possibilidades e capacidades que enganosamente pensa que possui. Para isto, há reuniões semanais com exercícios psicológicos práticos, junto com depoimentos, como também exercício de movimentos em grupo. Tudo isto para um trabalho sobre si mesmo dentro do conhecimento individual que tem como base as perguntas: “como estou?”; “o que consigo fazer?”; “como faço?”. Nesta situação, a pessoa que está praticando os trabalhos de Gurdjieff tem a possibilidade de estar (ao menos tentando) 16 horas treinando diariamente.
Uma vez por mês há uma reunião geral para os trabalhos coletivos e um treinamento na segunda linha, que é ajudar o grupo como um corpo comum. Digamos que na 1ª Linha trabalhamos para conhecer os centros e suas conexões. Na 2ª Linha, um companheiro é o Centro Motor, por estar capinando ou fazendo um trabalho manual qualquer. O outro é o Centro Intelectual, pois sabe o que tem que fazer; um terceiro é o Centro Emocional. Neste temos que colocar um pouco mais de atenção.
Podemos dizer que um amigo está parado e outros trabalhando muito e suando, cansados. Ao olhar para aquele que está parado nos sentimos mal e em nossa cabeça pulsa um questionamento: “por que ele está parado?”; “por que ele está enrolando tanto?”; “por que ele está errando?”. As nossas emoções começam a ferver. Neste momento se inicia um trabalho sobre a observação e a não manifestação das emoções negativas.
O Trabalho de grupo não se inicia quando a pessoa já está na reunião, mas sim no momento que decide ir. Se a pessoa não tiver inicialmente um pequeno desejo, não irá, pois qualquer obstáculo será uma boa desculpa para não trabalhar sobre si mesmo dentro de um esforço de no mínimo 24 horas, onde tudo o que é feito com o grupo não é para um lucro imediato, sendo assim fora do contexto da vida comum. Neste esforço deixamos o mundo com seus afazeres e iniciamos algo que não é gostoso nem prazeroso, mas algo que almejamos conseguir ao longo do tempo.
A 3ª Linha é um trabalho de coletividade com o objetivo de se fazer algo para todos, não somente para o grupo em si. Isso significa que já conhecemos em parte como nós funcionamos na 1ª Linha e com os outros na 2ª Linha, conseguindo então pôr em prática a 3ª Linha. Num nível inicial, um grupo que já tem um treinamento individual, resolve comprar mantimentos para as refeições. Quando estiverem pondo em prática isto, deveriam já estar fazendo exercícios de auto-observação até o momento de comer. Não se deve agir como se fosse um jantar comum de um mutirão, pois a nossa capacidade está sendo testada por nós mesmos: o que fazer e como fazer. Não há um responsável, mas todos são responsáveis. Isto é um esforço de grupo onde sua capacidade como um todo é facilmente percebida. Quanto mais capaz um grupo, mais é capaz de fazer e mais evoluído é em relação a outro grupo que quase nada consegue fazer.
Quem não decide num trabalho de grupo, deve estar em condição de obedecer para a execução do que é proposto da melhor forma possível. À todo momento, os participantes não devem se esquecer porquê estão aqui nesse Trabalho. Aqui não existe nada que não seja para conhecer a si mesmo e tentar estar presente e acordado. Para isto não devemos agir normalmente, a atenção que é dirigida sobre nós mesmos e sobre o outro deve ser sempre aguçada e com desprendimento. Não estamos aqui para fazermos o que queremos, mas o que deve ser feito da melhor forma possível, sempre com a lembrança de si.
Não deve existir situação de individualismo num trabalho de grupo, o que um faz todos serem responsáveis e cada um é um centro para o funcionamento equilibrado de toda a reunião. Não existe alguém mais importante. Se um tem o comando de uma simples lavagem de louça, os que obedecem tem a mesma utilidade e toda contestação num trabalho deste significa distração. Num trabalho coletivo a consideração externa é o principal objetivo e por isso não devemos esperar que nosso companheiro entenda o ritmo do trabalho. Nós é que devemos saber obedecer, como também mandar.
O ideal é cada um saber o que fazer ao iniciar os trabalhos pois tudo deve ser feito como um único programa. Se o trabalho se inicia às 6 da manhã, devemos estar prontos para fazer o que se deve e na humildade consigo mesmo, saber antes o que se deve fazer até o final e não perder esse objetivo. E isto com atenção em si mesmo. O nosso corpo físico, com todas as suas funções está trabalhando sem a necessidade de uma atenção. Esta interferência que fazemos em nosso corpo é para um armazenamento de energia e toda interferência externa que chegar, ou de dentro de nós deve ser evitada a todo custo.
Num trabalho de grupo existem os responsáveis por todos. Logo abaixo do dirigente vem outras pessoas, então quem não sabe o que fazer, deve perguntar a quem sabe. Ninguém trabalha para alguém, e sim para si mesmo pois tanto dentro do Trabalho de Gurdjieff como fora dele, há acontecimentos totalmente fora de controle. Para isto devemos a todo custo não deixar acontecer nada por acaso, fora daquilo que estamos fazendo. Desde o almoço até limpar o latão de lixo, devemos trazer momentos únicos de manifestações de leis superiores, se não estivermos com vozes interiores.
A pessoa é o que faz e não o que pensa que pode fazer. Um esforço para se adquirir a evolução do ser é um trabalho árduo e se ficarmos nos reunindo somente para ouvir e falar, poderemos até nos tornar grandes oradores ou pessoas cheias de ideias, mas nunca alcançar consciência e equilíbrio. A atividade se manifesta no que fazemos, tanto interiormente como exteriormente e um não é desligado do outro. Uma pessoa pode ir a uma igreja e rezar, dar esmolas, ser caridoso e não estar fazendo absolutamente nada para si mesmo. Se é um egoísta, leviano, continuará sendo o mesmo, nada em si mudará durante os anos; se por acaso é um trabalhador correto, honesto, continuará sendo o mesmo até a hora da morte. Para si mesmo não fez nada. Pode ter feito apenas materialmente, para sua família.
Aqui nos Trabalhos de Gurdjieff, nós não estamos satisfeitos com o que somos, queremos mudar, ser outro tipo de homem, queremos ser equilibrados e ter consciência para sermos donos do nosso destino. Sabemos que nada podemos fazer da maneira em que somos. Temos que mudar o nosso nível de consciência para sermos outro homem ou outra mulher. Devemos ser Guerreiros, para alcançar aquilo que o homem foi destinado a ser: filho de Deus.
(29/11/2000)

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