quinta-feira, 31 de outubro de 2013

RETORNO DE ATITUDE



 
Após alguns tempos de treinamento e prática do Trabalho de Gurdjieff,  o grupo começa a se acostumar com os encontros e o que antes era esforço, começa a ficar algo comum e simples. Neste ponto devemos ter muito cuidado com aquilo que achamos correto, certo e exato. Em outras palavras, erros de comportamento e pequenos serviços.
Quando isso acontece, as atitudes externas começam a ficar mais importantes do que o esforço interior,  começamos a colocar defeitos nas atitudes mecânicas e de esquecimento dos outros e começamos a dar maior importância a comida, horários e até com o sono dos outros, esquecendo o nosso próprio. Como quando estamos com um pouco de atenção, podemos ver melhor os companheiros, ver em nós a doença da exigência, queremos que ninguém durma mais. Isto é errado, é um tipo de sentimento negativo que também nos faz dormir.
Quando vemos alguém do grupo numa situação de sono, devemos intensificar a atenção em nós mesmos e não dar chance nem oportunidade de outros nos verem nesta situação, basta lembrar que o nosso objetivo é acordar a nós mesmos e não os outros. A falta de controle emocional faz com que nos sentimos insatisfeitos e até impacientes com os companheiros. Como não devemos expressar as nossas emoções negativas devemos nos calar, e até fazer um Stop se for no caso de crise de sono. Crise de sono é quando todos esquecem de si próprios e discutem calorosamente sobre um assunto ou divertimento. O primeiro que percebeu isto deve parar de falar e de gesticular ou parar de fazer aquilo que está fazendo (se possível).
Vamos dizer que na cozinha várias pessoas fazem o almoço, todos com a sua tarefa conversando e se movimentando normalmente. O primeiro que perceber isso deve parar de fazer seu serviço por um momento sem se mover, olhando fixamente para algo até que perceba que alguém viu, depois retorna aos afazeres com atenção. A melhor forma de ajudar um companheiro a despertar um pouco é colocar apenas a atenção nele e em si próprio sem nada falar. Caso esteja fazendo algum serviço, ensinar e não chamar a atenção com emoções. Todas as vezes que isso acontecer, antes de fazer qualquer coisa lembrar de si próprio. O Trabalho de Gurdjieff é impessoal. Ás vezes se confunde as obrigações do grupo com relacionamentos de amizade, é quando aparece palavras assim: “não gostei”, “foi exagero”, “não precisava ser assim”, “estou vendo”, “já sei”, etc. Outra forma de sono é repetir o que se falou, tanto quem falou como quem escutou. Isto não se pode confundir com não ter ouvido pela distância ou barulho num local.
Certa vez pedi uma lima ½ cara a uma pessoa e o que eu precisava era de uma lima faca. Fiz de propósito para ver se ele iria corrigir o erro. Ele trouxe a meia cara então eu disse que tinha pedido lima faca e olhei para ele, a pessoa teimou –“Não, o senhor falou lima ½ cara”. Insisti falando com ele  e ele continuou a teimar, até que falei o que estava acontecendo, e ele continuou a se justificar. Quando algo assim acontece com o grupo, todos devem colocar a atenção especial no que está acontecendo e saber qual é a intenção de quem dirige. Não se deve fazer esse exercício entre vocês pois vira brincadeira, que também é sono. Muito movimento no grupo feito pelo responsável não deve ser imitado, outros sim, mas para sabermos isso devemos estar no lugar de fazer exercício e não de ensinar os outros a se comportarem.
No Trabalho de Gurdjieff quem estiver disposto a acordar não deve expressar a sua opinião se não for perguntado, a qualquer um do grupo. Quando alguém acha que deve ser assim ou assado, se acha acordado, o que não é o caso de cada um.
É sempre bom o grupo estar o maior tempo possível junto. Os graus de disponibilidade são ligados a vários fatores. Por exemplo:
Digamos que uma pessoa não falta a nenhuma reunião e faça os exercícios regularmente. Podemos dizer grau 1. Esta situação é o início dos Trabalhos , podemos dizer que é a época do egoísmo, só ela é importante.
O grau 2 é a pessoa que além disso também ajuda nos afazeres do grupo, reunião extra, com doações, presença fora de reuniões e outros serviços. Pessoa que está disposta a ajudar o grupo procurando sempre melhorar as reuniões.
3º grau é uma dedicação total ao grupo, a pessoa é o Trabalho de Gurdjieff.
Qualquer desculpa tem um motivo e muitas atitudes nossas explicam porque fizemos mas não justifica nossa ação. O homem que começa a criar seu destino, faz o que quer e não o que a vida o obriga a fazer, pois até nisto vemos o grau de uma pessoa, e ao começar a frequentar um grupo e não faltar as reuniões já é um início de se fazer o que quer e iniciar algo que um dia tudo pode ficar dessa forma, todos os dias. Por necessidade podemos ter que ser afastados do grupo por um tempo (serviço, doença, etc). Tudo isso é parte da mecanicidade da vida, seguimos o destino comum e não o nosso próprio destino. Quanto mais disponível uma pessoa for aos Trabalhos de Gurdjieff maior grau possui na vida, o grau é a liberdade e a consciência. 
Outra coisa que também devemos saber é que devemos nos tornar o próprio Trabalho de Gurdjieff. É um engano pensar que sabemos e entendemos os acontecimentos da nossa vida, devemos ser humildes no Trabalho de Gurdjieff, no grupo e com quem estiver fazendo o menor esforço. Um grupo são pessoas de alto valor, não somente para alcançar a imortalidade, como para a  evolução de toda a humanidade, junto com a terra. Devemos sempre lembrar disso.
No grupo tem que existir a socialização do movimento geral, isto quer dizer que o funcionamento de algo que se queira fazer não é apenas teórico. Cada pessoa deve ter no grupo uma função específica como: coordenar a cozinha (Ogan), limpeza, economia, burocracia, etc... Cada uma dessas pessoas devem ser capazes de exercer essas funções, acima de sua personalidade (sou assim, quero assim e etc) e além disso o substituto deve ser o auxiliar direto em cada função e na ausência dele o substitui e na troca de cargo assumir o lugar plenamente.
Enquanto os grupos sociais precisam de incentivo, no Trabalho de Gurdjieff é exatamente o contrário, quanto menos uma pessoa gostar de um cargo mais deve ficar nele, e quando se acostumar a ele deve ser substituído.
Quem quer acordar deve ver em si tudo o que seja fraco e que não esteja em equilíbrio. Um dirigente não tem necessidade de perguntar quem quer o quê? Deve saber o que cada um do grupo mais precisa. Como tudo deve funcionar da melhor forma possível, um grupo deve ter um coordenador geral, que deve ser uma pessoa primeiro dinâmica, líder e exigente. Que não espere ser mandado e que veja os erros em 3 aspectos:
  1. Prático (se o que a pessoa está fazendo é certo ou errado)
  2. Se os companheiros estão trabalhando com atenção
  3. Saber quem é melhor e em quê ele é melhor, pois numa emergência possa substituir o pior pelo melhor, para que o andamento do grupo não empaque, não fique deficiente de uma maneira geral, isto é, tudo funcione bem.

As pessoas que tem dificuldade em determinado tipo de tarefa devem ser auxiliares de quem tem que aprender. Na parte estrutural, os arquivos devem ter um responsável que saiba onde estão todos os livros, anotações e gravações. Na parte de movimentos um grupo de no mínimo 3 pessoas, se possível um deles que estude música. E em terceiro, um grupo de eventos, que transmita recados, faça os deslocamentos, que saiba onde cada um está e anote a presença de cada participante. Tudo isso deve estar na mão do coordenador geral que pode ter um CAMBONE que traga tudo em suas mãos dos diversos grupos de Trabalho de Gurdjieff.
Qualquer pessoa que se possa dizer pertencente a um grupo de Trabalho de Gurdjieff não deve dar margem para que falhas pessoais atrapalhem o funcionamento geral dos companheiros. O grupo 1 é impessoal, ninguém faz o que quer, mas sim o que deve, para sair da mecanicidade e ter a oportunidade de acordar um pouco mais a cada esforço que fizer e o que 3 integrantes estão vendo a respeito de um , não é fantasia, é real e deve ser aceito como um favor que um deve fazer para o outro, não apontando o dedo mas não deixando o companheiro persistir em dormir em suas próprias fraquezas.
O grupo é a força do Trabalho de Gurdjieff, se algo for bom para um, com certeza será bom para todos. Se beber o vegetal é bom para um, será bom para todos; se vou à praia e isso é bom, chamo todos; se vou ao cinema ou a um show comunico a todos, nem todos podem gostar do que gostamos, mas com certeza terá uma união devido a consideração por todos do grupo, sem ter diferenciação interior por amizade e etc...
No aforismo 15 de Gurdjieff diz: “Amo aquele que ama o Trabalho”. Aqui não existe meu marido, minha mulher, minha filha, minha casa, a casa de um integrante do grupo, é a casa de todos; a filha de um integrante do grupo , é filha de todos, o carro de um integrante do grupo, é o carro de todos. Essa é a verdadeira união, esse é o verdadeiro desapego, esse é o primeiro passo de uma longa caminhada para se chegar ao Amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário